Sem sucesso na busca de novas substâncias para impedir a queda dos fios, as companhias farmacêuticas e os cientistas estão adotando uma tática diferente. Em vez de investirem em novas drogas, começaram a testar remédios já aprovados para outras patologias que, por algum motivo, tiveram entre seus efeitos colaterais o estímulo ao crescimento de pelos e cabelos. E está dando certo. Um exemplo dos progressos que começam a surgir a partir dessa abordagem são as descobertas feitas por pesquisadores da Universidade de Colúmbia, nos Estados Unidos. Recentemente, eles testaram o ruxolitinibe, remédio aprovado para tratar a mielofibrose, que ocorre quando células da medula óssea passam a se desenvolver de forma anormal, em pacientes com alopecia areata, uma doença autoimune que leva à perda completa de pelos, cílios e cabelos em todo o corpo.

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DISCIPLINA
O médico Adriano Almeida toma remédio diariamente,
há 21 anos, para manter a cabeleira. No consultório,
usa o laser para estimular o crescimento dos fios

No estudo, 12 voluntários receberam dois comprimidos diários de ruxolitinibe. “No prazo de quatro a cinco meses, a droga promoveu a restauração total dos cabelos e pelos de três pacientes”, disse à ISTOÉ a dermatologista Angela Christiano, da Universidade de Colúmbia. Ela é uma das autoras do trabalho e também sofre de alopecia areata. “Foi a primeira vez que um fármaco demonstrou uma resposta intensa e positiva para essa doença, para a qual não há ainda medicamentos específicos aprovados”, disse Angela. Parte das suas descobertas foi publicada pela revista científica “Nature Medicine”.

Na mesma linha de pesquisa, estudam-se os efeitos do tofacitinibe, outro medicamento que age no sistema imune e se destina ao tratamento da artrite reumatoide. Em junho, cientistas da Universidade de Yale (EUA) divulgaram o caso de um paciente que recuperou todos os pelos do corpo com a medicação e sem nenhum efeito colateral.

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BATALHA
Camila Correa perdeu cílios, pelos e cabelos há quatro anos.
Tentou diversas terapias, mas só recuperou parte deles há cerca
de um ano, com microinjeções no couro cabeludo e remédios
como o Bimatoprost, ainda em teste. "Estou feliz"

Apesar dos resultados promissores, os dermatologistas mantêm a cautela. “São drogas que suprimem o sistema de defesa em todo o corpo, e não só no local. É preciso conhecer muito bem a extensão desses efeitos”, diz a dermatologista Ediléia Bagatin, do departamento de Cosmiatria da Universidade Federal de São Paulo. Entre os efeitos indesejáveis mais comuns desses remédios estão risco de infecções, anemia e diminuição das plaquetas no sangue.

O médico Thiago Bianco Leal, que tem clínicas em São Paulo, Dubai, Madri e Londres, também irá esperar por estudos maiores antes de introduzir os remédios imunobiológicos na sua lista de recursos antiqueda. “É necessário observar seu desempenho a longo prazo e calcular seu custo-benefício em relação a outras técnicas, porque os imunobiológicos são muito caros”, diz o médico. Ele se especializou na Espanha em transplante de cabelos.

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De todas as opções em estudo, uma se destina a combater a causa mais comum da queda de cabelo: a herança genética. O bimatoprost, princípio ativo de um colírio indicado para a terapia do glaucoma, está em fase final de testes e já possui genéricos disponíveis no País. Um dos seus efeitos colaterais – o crescimento dos cílios – fez soar o alarme para os pesquisadores de que poderia estar ali uma possibilidade para o tratamento da queda de cabelo. “Ainda que essa indicação não esteja na bula, o remédio já está sendo usado com sucesso em alguns casos”, diz o médico Adriano Almeida, de São Paulo, diretor da Sociedade Brasileira do Cabelo. Foi essa substância que devolveu a sobrancelha da jovem Camila Correa, 30 anos, de Indaiatuba (SP). Ela perdeu todos os fios há quatro anos, quando foi diagnosticada com alopecia areata. “Faço tudo o que está ao meu alcance. Esse resultado me deixou muito feliz”, diz ela, que relata toda a sua saga no blog Detalhe de Mulher.

As maiores expectativas, no entanto, concentram-se nos estudos com células-tronco. A Universidade da Pensilvânia (EUA) já conseguiu obter células-tronco da pele capazes de produzir folículos pilosos, onde germinam os fios. Em humanos o método ainda não deu bons resultados. A cientista Angela Christiano, da Colúmbia, também está tentando recriar células germinativas para depois multiplicá-las e inseri-las no couro cabeludo. Mas, enquanto nada disso se torna realidade, resta a opção de mergulhar de cabeça nos tratamentos existentes. Uma delas é a combinação de sessões de laser com a aplicação, por meio de microinjeções no couro cabeludo, de substâncias como o Minoxidil ou de fatores de crescimento para fortalecer e estimular a recuperação dos fios. “No momento, é um dos tratamentos que eu que considero mais avançados. E o resultado é ótimo”, diz o dermatologista Otávio Macedo, de São Paulo.

Fotos: João Castellano/Ag. ISTOÉ