A dor é a primeira causa de afastamento do trabalho, independentemente da sua origem. No Brasil, calcula-se que 35% da população sofre de dores crônicas, aquelas com duração superior a seis meses ou sem causa definida. Felizmente, há novas estratégias de tratamento e medicamentos de última geração, desde antiinflamatórios que não agridem o estômago até analgésicos derivados do ópio com menores efeitos colaterais para melhorar a qualidade de vida das pessoas obrigadas a conviver com o problema. É nesta última categoria que se enquadra o Oxycontin, recém-lançado no Brasil pelos laboratórios Zodiac e Medipharma. À base de oxicodona, droga sintetizada a partir da substância tebaína (extraída do ópio), o remédio é duas vezes mais potente do que a morfina, também da família dos opiáceos.
A vantagem da nova pílula é o seu processo de liberação em duas fases (leia quadro). Essa característica proporciona ação em cerca de uma hora, enquanto outros opiáceos podem demorar até 36 horas para sedar totalmente dores moderadas ou intensas. Também garante alívio por cerca de 12 horas com um único comprimido. O benefício é válido para qualquer uma das versões disponíveis (10, 20 e 40mg). O medicamento só é vendido para quem apresenta a receita especial exigida pela Vigilância Sanitária.

O uso de analgésicos opiáceos é maior nos países europeus e nos Estados Unidos. São recomendados contra dores graves de pacientes com tumores em estágio adiantado ou submetidos a cirurgias, com dores reumáticas ou decorrentes de doenças como a diabete, além das que possuem causas ósseas e musculares. No Brasil, entretanto, ainda persiste certo receio de que essas drogas possam mascarar sintomas. Essa visão vem sendo combatida pelos especialistas. “Há maior conscientização. Já se sabe que os opiáceos são ótimos nos casos de dor aguda e que menos de 1% dos usuários desenvolve dependência”, explica a médica fisiatra Lin Tchai Yeng, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Nesse hospital, as dores relacionadas ao câncer representam 15% dos casos, enquanto 20% a 25% estão associadas a lesões de estruturas nervosas e 60% correspondem aos problemas musculares e ósseos.

Os especialistas investigam estratégias para controlar o problema. A principal delas é a combinação de tratamentos. “O recurso simultâneo de medicamentos, acupuntura, exercícios, cuidados psicológicos e métodos de reabilitação é a forma mais eficaz para controlar os vários tipos de dor”, assegura a fisiatra Lin Tchai Yeng.

No rastro da dor
Na tentativa de identificar os caminhos da dor no corpo, os pesquisadores da Divisão de Fisiatria do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo estão aplicando, em caráter experimental, o teste da eletromiografia de superfície. É o mesmo exame feito pelos atletas da equipe americana de esqui olímpico para verificar se a carga de esforço de cada músculo utilizada durante o esporte é adequada. “A eletromiografia de superfície é um bom recurso para avaliar o impacto da deficiência ou sobrecarga das estruturas musculares no surgimento e manutenção de dores de origem muscular”, explica a fisiatra Lin Tchai Yeng, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Durante o exame, eletrodos colocados sobre a pele medem a tensão e a atividade de grupos de músculos em movimentos rotineiros, como atender o telefone ou digitar no computador. Dessa forma, é possível verificar se o esforço está sendo bem distribuído ou se há outros problemas. Nesse caso, podem aparecer dores com chances de se tornarem crônicas se não forem corrigidas de maneira adequada. Os resultados dessa avaliação ajudam a planejar o tratamento clínico e programas de reabilitação mais eficientes.


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