Um mandato na mão, um segurança por perto e uma tremenda dor de cabeça. Em contagem regressiva para encerrar os trabalhos – pelo menos por enquanto – depois de 14 meses, mais de 100 prisões e centenas de quebras de sigilos telefônico e bancário, os deputados da CPI do Narcotráfico estão sofrendo um dos maiores cercos já montados contra uma Comissão Parlamentar de Inquérito. Pressionados para parar e sofrendo ameaças até dentro do Congresso, onde é comparada a um trem descarrilado rumando para o precipício de temas proibidos, como lavagem de dinheiro e financiamento de campanha, a CPI recebeu sinal vermelho para a limpeza que iniciou. A proximidade do fim do prazo regimental para os trabalhos da comissão, que se despede dos holofotes no dia 30 de junho, coincide com uma sequência de testemunhas assassinadas, operadoras de telefonia empurrando documentos inúteis e bancos sonegando informações. “Muita gente dentro e fora da CPI quer terminar isso logo para se livrar do fardo que viramos. Começamos a atingir colegas aqui dentro e seus financiadores. Aí a reação ficou forte”, denuncia o subrelator da CPI, Padre Roque (PT-PR), que hoje toma seis calmantes por dia e ouve de colegas da bancada paranaense “conselhos” para parar. “Enquanto estávamos pegando ladrão de galinha, éramos os tais. Quando chegamos aos donos do galinheiro, a coisa complicou. É um monte de gente de broche (usado pelos deputados) na lapela falando pra gente não mexer mais com isso”, conta o presidente da CPI, Magno Malta (PTB-ES), o principal defensor, dentro da CPI, do fim dos trabalhos. “Se eles continuarem, eu saio”, antecipou.

Alçado ao estrelato no primeiro mandato por conta da CPI, evangélico e cantor do grupo de pagode gospel Tempero do Mundo, Malta diz que não suporta mais a pressão e chegou ao seu limite “pessoal, familiar e político”. Principalmente em seu Estado, transformado em campo minado depois que a CPI decidiu investigar, a partir de denúncias de ISTOÉ, a quadrilha formada por políticos e empresários ligados ao crime organizado. Malta não nega que é amigo e foi financiado em sua campanha pelo presidente da Assembléia Legislativa do Espírito Santo, José Carlos Gratz, principal investigado dentro da máfia capixaba. “Se a CPI continuar, eu não consigo pisar ali de novo. Num estadinho desse tamanho, eu sou o mais exposto”, diz. Como presidente da comissão, Malta também é réu em oito processos movidos contra a CPI por juízes e advogados contrariados com o que chamam de “tribunal de exceção”. “Por tudo isso a CPI tem de acabar”, admite.

Foto: Ricardo Stukert

Moroni, estrela da investigação, sofre ameaças: “A CPI tem que acabar”

Estratégia – O presidente da comissão se manteve estrategicamente afastado das investigações em seu Estado, assim como o relator da CPI, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), preocupado com sua candidatura à Prefeitura de Fortaleza, ficou distante do Ceará de Tasso Jereissati, do PSDB. Quando a CPI começou a investigar a participação de empresas do Ceará no tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, políticos cearenses fizeram cara feia para Moroni. O problema fica resolvido com o fim da CPI.

Dentro e fora do Congresso circulam dossiês sobre a maioria dos integrantes da CPI – peças que misturam ficção e realidade, denúncias fajutas de corrupção e acusações mais ou menos levianas sobre amantes. Dois dossiês atingiram em cheio a reputação dos deputados Wanderley Martins (PDT-RJ) e Silas Câmara (PTB-AM). A CPI inocentou os dois, mas não adiantou. O dossiê de Silas o acusava até de bigamia. As denúncias contra Wanderley o apontavam como amigo de traficantes. Quando as denúncias pipocaram, o deputado era titular de cinco das 12 sub-relatorias da CPI e coordenava os trabalhos sobre lavagem de dinheiro. Ele não aguentou a pressão e pediu afastamento. “A gente começou a chegar nos tubarões, o grande propósito da CPI, e comecei a ser bombardeado. Tive de recuar”, admite Wanderley. “Conseguiram seu objetivo. Na parte de lavagem de dinheiro não chegamos a lugar nenhum.”

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