Os deputados que apóiam o governador Amazonino Mendes (PFL) na Assembléia Legislativa do Amazonas passaram a última semana empenhados em impedir a formação de uma CPI. O pedido para a instalação da comissão foi feito na segunda-feira 29, depois de ISTOÉ revelar o conteúdo de uma denúncia arquivada pelo procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, sem investigação preliminar. Os documentos e depoimentos em poder da Procuradoria mostram uma conta bancária aberta por Amazonino em Luxemburgo e um cheque de US$ 500 mil depositado nessa conta a título de comissão por compras superfaturadas. Outros documentos obtidos por ISTOÉ comprovam que despesas de passagem aérea e hospedagem do governador nas Ilhas Faroe, no Norte da Dimanarca, foram pagas pelo autor da denúncia, o empresário brasileiro naturalizado americano, Juarez Barreto Filho. Um dos documentos é a cópia da passagem de Amazonino, paga com o cartão de crédito de Juarez. Outro é a cópia do comprovante do pagamento feito ao hotel Vagar, também com um cartão do empresário. Para confirmar a autenticidade desses papéis, basta uma consulta à administradora do cartão. No entanto, o caso foi arquivado antes que essa consulta fosse feita.

Para a CPI ser instalada são necessárias as assinaturas de oito dos 24 deputados estaduais do Amazonas. “Precisamos mostrar que somos prepostos do povo e não do governo”, afirma o deputado Mário Frota (PDT), um dos autores do pedido da CPI. “Desafio o governador a liberar sua bancada para que aprove a CPI. Seria a melhor maneira de acabar de vez com essa história, pois quem não deve não teme.” Com essa argumentação, até quinta-feira 1º ele havia reunido sete assinaturas.

Na terça-feira 30, o governador publicou uma nota no jornal A Crítica, de Manaus (AM), onde afirma que os documentos apresentados no Ministério Público Federal são falsos. Nem o governador nem o procurador-geral da República submeteram os papéis a exames científicos para poder dizer definitivamente se eles são ou não falsos. “Certamente, uma CPI poderia fazer o trabalho que o procurador não fez”, sentencia o deputado Eron Bezerra (PCdoB). Os deputados aliados de Amazonino, por sua vez, não questionam a autenticidade dos documentos nem respondem a detalhes da denúncia. Se contentam com o engavetamento promovido por Brindeiro. “Se o Ministério Público arquivou, não cabe a nós remexer nessa papelada”, diz o presidente da Assembléia, Lupércio Ramos (PFL). “A história dessa conta já surgiu na campanha eleitoral e nada foi provado.”
O empenho dos governistas poderá até impedir a abertura da CPI, mas as denúncias contra Amazonino já ultrapassaram as fronteiras do Estado. Na última semana, Brindeiro esteve na Comissão de Constituição e Justiça do Senado e foi duramente cobrado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) a respeito do arquivamento promovido pelo procurador neste e em outros casos. “Não podemos mais admitir que fatos graves envolvendo dinheiro público sejam engavetados sem a devida apuração”, bradou o senador gaúcho.