É lugar-comum achar que, em razão do olhar treinado, fotógrafos raciocinam visualmente e preferem deixar aos outros o ato de decifrar suas imagens. Contrária a esta idéia, a jornalista Simonetta Persichetti decidiu ouvir os maiores profissionais da fotografia brasileira e saber justamente o que eles pensam de seus próprios trabalhos. Publicadas em livro, no ano passado, as entrevistas lhe renderam o prêmio Jabuti de Reportagem. Foi o impulso para prosseguir o projeto e lançar agora Imagens da fotografia brasileira 2 (Estação Liberdade/Ed. Senac, 192 págs, R$ 39), reunindo suas conversas com mais 17 pesos pesados da área. O criterioso mapeamento reúne nomes de trajetória sedimentada, a exemplo de Claudia Andujar, Pedro Vasquez, Juca Martins, Luis Humberto, Miguel Rio Branco, Ed Viggiani, Hélio Campos Mello e outros que despontaram nos anos 80 como Juan Esteves e Rosa Gauditano. “No primeiro livro eu fiz um panorama da fotografia brasileira contemporânea”, explica Simonetta. “Neste, quis destacar pessoas que foram importantes na transformação da linguagem, criando verdadeiras escolas.”

Além do mérito de não se dirigir apenas a especialistas, Imagens da fotografia brasileira 2 tem a qualidade de ir direto ao ponto nas questões particulares de cada profissional, com depoimentos sempre reveladores. Como fez no primeiro volume, a autora pediu a cada fotógrafo que escolhesse quatro imagens representativas de seu trabalho para ilustrar as entrevistas. Claudia Andujar, que há 29 anos se dedica a documentar os índios yanomamis, selecionou belos retratos em preto-e-branco, realizados em 1976. A série faz parte do livro Yanomami – uma vivência entre os índios yanomami frente ao eterno. “Optei por estas imagens porque elas mostram um momento intimista e muito tranquilo de meu contato com eles.” A questão indígena é também um dos temas de Rosa Gauditano, que, além de dois retratos dos índios xavantes, feitos em 1992, comparece com duas fotos de mascarados, clicados em 1989, durante a Festa do Divino de Pirinópolis, em Goiás. “Os mascarados fazem parte do lado profano da festa, uma das mais bonitas do Brasil”, afirma Rosa, que registra festejos populares de várias regiões brasileiras há quase duas décadas.