O cinema da China é como sua culinária. Agrada com facilidade qualquer platéia do planeta. Um bom exemplo é A guerra do ópio (Yapian zhanzheng, China, 1997), drama histórico sobre o famoso conflito travado no século XIX entre a Inglaterra e o país dos imperadores, que tem estréia em São Paulo na sexta-feira 2. Dirigido por Xie Jin, um dos mais antigos cineastas chineses, o filme foi produzido para marcar o acordo que, em julho de 1997, devolveu à China a cidade de Hong Kong, perdida justamente naquele episódio. Com estilo fluido e agradável, a fita mostra os lances que desembocaram na derrota do grande império asiático. Tudo muito didático, recheado de orgulho pátrio, trazendo ingleses obviamente pintados como vilões altivos.

Numa passagem reveladora, um mercador britânico de ópio tenta demonstrar ao Parlamento a fragilidade dos rivais, ilustrando a trajetória da cultura chinesa através de peças artísticas de várias dinastias, feitas respectivamente de bronze, jade e porcelana. Termina sua preleção atirando no chão um delicado vaso de porcelana, numa prova da inferioridade bélica dos inimigos. Com seu maniqueísmo e visual lapidado ao custo de US$ 15 milhões, A guerra do ópio tinha tudo para exaltar os ânimos nacionalistas na China. Quando foi lançado, contudo, seus habitantes preferiram ver o arrasador Parque dos dinossauros.


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