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CRÍTICA Kater condena o “teologuês” e diz que a Igreja trata mal os fiéis

Na quarta-feira 9, quando o papa Bento XVI, chegar ao Brasil, vai encontrar uma Igreja Católica em transformação. Até então o Vaticano trabalhava com estimativas de que o catolicismo no País estava em decadência. Mas agora uma revolução movimenta templos católicos de norte a sul do País. Sem fazer alarde, padres, bispos e leigos tomam decisões radicais depois de reconhecerem que a Igreja trata mal seus fiéis. Para mudar essa situação, o prelado resolveu investir numa opção pouco ortodoxa aos católicos e muito comum ao mundo das grandes corporações: o marketing. A alma da mudança é tratar os fiéis não mais como meros devotos, e sim com o status reservado aos grandes consumidores. Assim como os bancos, as lojas ou as companhias aéreas tratam com qualidade seus fregueses, o clero resolveu “fidelizar” seus “fiéis”. Toda essa transformação se deu por obra e graça de um militante do Movimento da Renovação Carismática, o administrador de empresas Antônio Kater Filho, 58 anos.

Descendente de libanês, Kater, que é autor do livro O marketing aplicado à Igreja Católica, há 23 anos estuda o comportamento dos religiosos e seu rebanho. Foi justamente depois de ouvir, por acaso, uma pregação de um pastor pentecostal que Kater percebeu a eficiência do discurso das outras igrejas. “Enquanto os pastores falam com emoção, os padres falam para o vazio”, reconhece. Desde então, o marqueteiro resolveu peregrinar pelo País ensinando ao clérigo as técnicas do marketing. A estratégia deu certo. Na matemática dos católicos, nos últimos sete anos a Igreja Católica estabilizou o número de seus devotos em 73,89% da população brasileira.

EMOÇÃO O teólogo com João Paulo II

Casado, pai de cinco filhos, Kater estudou teologia (“para falar de igual com os sacerdotes”) e fez mestrado na USP na área da comunicação. O marqueteiro, que foi professor do padre Marcelo Rossi, prega a eficiência do discurso. “Mesmo com todas as rádios, tevês e jornais a serviço da Igreja, não sabemos nos comunicar”, diz. Nas suas propostas, a homilia ganhou atenção especial. “O clero fala um ‘teologuês’ que ninguém entende.” Seu lema é decodificar as missas para uma linguagem simples e direta. Kater explica a seus alunos, por exemplo, que, se Jesus Cristo fosse vivo, ele não diria aos fiéis que “o reino de Deus é como um tesouro escondido”, e sim “o reino de Deus é como ganhar sozinho na loto”, diz. “É emoção.”

Entre as novidades implementadas, o termo confissão é trocado por reencontro. “Confissão é coisa de bandido”, associa. Para o estudioso, que fundou a Associação Brasileira de Marketing Católico (ABMC), é uma dádiva poder escutar o que aflige o fiel e como ele batalha contra as tentações do pecado. “As confidências são o feedback. Isso é pesquisa qualitativa”, diz. “O bom religioso é aquele que escuta a confissão, alimenta-se de informação e, como bom marqueteiro, explica como enfrentar as dificuldades.”

A idéia de Kater é reformar sem quebrar. Nessa linha, o secular dízimo, que há anos é tratado como esmola, não ficou de fora. Na versão business, a contribuição passou a ter o peso de um investimento financeiro. “A Igreja Católica é de todos nós, é nossa casa. Ela não é do pároco que a administra, temos que cuidar dos templos”, diz. Ele vai além: “Os padres não falam sobre o dízimo com a agressividade dos nossos irmãos evangélicos”, conta. Dentro do universo de 73,8% de católicos, apenas três em cada dez contribuem com doações às igrejas. Entre os pentecostais, que constituem 12,5% da população, 44% contribuem.

Na cruzada de Kater, os bancos de madeira são substituídos por confortáveis assentos. “O sofrimento da fé é coisa do passado”, lembra. “A pessoa fica duas horas sentada naqueles bancos duros e sai de lá com dor nas costas.” Outra intervenção é na acolhida dos fiéis que vão à missa. “Qualquer boa loja tem estacionamentos gratuitos, banheiros e até cafezinho. A Igreja Católica não oferece nada”, argumenta. Muitas das 120 dioceses orientadas por Kater já estão implementando seus pedidos. “Fé e conforto não são opostos”, garante. E diz mais: “A Igreja Católica tem mais de dois mil anos de história porque tem o melhor logotipo, a cruz; o melhor outdoor, as torres das igrejas, e o grande produto, a salvação.”

A NOVA FACE DA CNBB
 
jornal a semana 
ESTILO MINEIRO Dom Lyrio alterna posições avançadas e conservadoras 

Alan Rodrigues

O novo presidente da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Geraldo Lyrio Rocha, 65 anos, arcebispo de Mariana (MG), nasceu no Estado do Espírito Santo, mas adota um estilo tipicamente mineiro na hora de fazer política. Há um ano, dom Lyrio, que foi arcebispo de Vitória da Conquista (BA), peregrina pelas 37 regionais da entidade espalhadas pelo País ora com um discurso à direita, ora à esquerda, apesar de comungar mais das idéias dos progressistas. Sua estratégia deu certo. Com 225 votos em um colégio eleitoral de 334 bispos, ele foi escolhido na manhã de quinta-feira 3 para substituir dom Geraldo Majella, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil.

Erra quem aposta que o novo presidente seja da “ala vermelha” da Igreja, apesar de ser um defensor da reforma agrária. “Há um descaso em relação às famílias assentadas. Não basta dar posse de terra se não há condições de desenvolvimento agrícola, produção orientada e escoamento desses produtos”, diz ele. “Julga-se que o problema foi resolvido, enquanto na verdade não foi”, completa. Sua eleição confirma a tendência da CNBB de não eleger candidatos apoiados pelo Vaticano. Neste ano a Santa Sé trabalhou nos bastidores por dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e secretário-geral da entidade, que não teve nenhum voto. As eleições aconteceram durante a 45ª Assembléia Geral da CNBB em Itaici, interior de São Paulo.