Engana-se quem deixa de enxergar na CNBB uma das maiores, e mais influentes, agremiações políticas do País. Para além de uma congregação de religiosos, a CNBB tem se destacado, de fato, por levantar bandeiras e liderar protestos que incomodam em várias instâncias, sem escolher adversários. Seguindo sua natureza, eis que na semana passada a CNBB realizou eleições para escolher um novo líder e, ato contínuo, largou ataques para todos os lados. Reclamou do presidente Lula: avaliou que sua gestão é insuficiente para o Brasil. Reclamou da política econômica, do pagamento de juros da dívida pública e do comprometimento do Orçamento, que ficou insuficiente para atender “às necessidades básicas dos trabalhadores”. Listou em documento preocupações com “a persistência do desemprego, o subemprego, a informalidade, o trabalho infantil, as migrações internas e para outros países”. Em determinado momento, as críticas da CNBB lembraram plataforma de candidato tentando angariar votos para se eleger. Mas os alertas iam além disso e as intenções eram, decerto, de melhor índole. O escolhido das urnas na conferência dos bispos foi dom Geraldo Lyrio Rocha (foto), arcebispo de Mariana, no interior de Minas, que substitui dom Geraldo Majella. O próprio dom Lyrio não poupou esforços para ampliar a ofensiva de queixas. Seu foco, a reforma agrária. Nas palavras de dom Lyrio: “Há um descaso em relação às famílias assentadas. Não basta dar posse de terra se não há condições de desenvolvimento agrícola.”

Nenhuma surpresa na posição firme assumida pela entidade por esses dias. Historicamente foi assim e, nesse perfil, a CNBB tem se prestado, no mínimo, a preencher lacunas de defesa da população brasileira – que pouco tem encontrado vozes de comando. Em tempos de oposição rarefeita, em que partidos políticos que se dizem fiscais do governo preferem o caminho do alinhamento e da aliança nos bastidores, a CNBB, agora sob o tacão de dom Lyrio, pode se converter rapidamente na melhor opção de trincheira a favor de reformas que realmente importam. Eram reformas concretas que ela estava pedindo durante a eleição e é isso que ela pode conseguir com o apoio dos cidadãos.