Depois de quatro meses de baixas, o dólar comercial alcançou R$ 1,85, maior cotação desde dezembro do ano passado. Somente de março para cá, o dólar subiu 7% e os economistas prevêem que ultrapassará R$ 1,90 em breve, pressionado por fatores como alta do petróleo, volatilidade das Bolsas, instabilidade da Argentina, remessas de lucros ao Exterior, pagamentos de juros da dívida e dificuldade em exportar.

O próprio governo sinalizou que o câmbio passaria por turbulências, admitindo que a alta dos juros nos Estados Unidos estimularia investidores a tirar seus dólares do Brasil para colocá-los naquele país. Além disso, o Brasil terá de mandar para fora, só em junho, cerca de US$ 3,8 bilhões em juros e mais US$ 5,4 bilhões em remessa de lucros de multinacionais ao Exterior em 2000.

Quem tem dívida em dólar saiu em busca da moeda para lastrear seus pagamentos futuros. O aumento da procura elevou a cotação. Os rumores de uma crise cambial mais forte na Argentina contribuíram para a ansiedade dos compradores de dólar. “Qualquer tranco na economia nacional hoje é um risco. Só em investimentos de curto prazo, aqueles que fogem do País ao primeiro sinal de turbulência, existem US$ 35 bilhões, contra uma reserva de divisas de US$ 32 bilhões” afirma Luis Paulo Rosenberg, diretor da Rosenberg & Associados.

Já a principal fonte de dólares, a exportação, não anda lá muito bem. O governo brasileiro previu superávit de US$ 5 bilhões na balança comercial em 2000, mas revisou a meta para US$ 3 bilhões. Dos US$ 400 milhões que tivemos de superávit este ano, US$ 160 bilhões (ou 40%) se referem à devolução de duas aeronaves cujo leasing a Vasp não conseguiu pagar a uma empresa japonesa. O dinheiro foi contabilizado como exportação.

Parte das agruras das exportações vem da vulnerabilidade de nossa pauta. Metade das vendas externas é baseada em recursos naturais (leia quadro), enquanto o mercado de maior potencial está na mão oposta. “O modelo exportador a ser seguido é o da Índia, que se concentrou em setores de alta tecnologia. Faltou aqui uma política industrial orientada nesse sentido”, disse o economista Celso Furtado à revista Sem Terra.