A Operação Condor existiu mesmo e um dos seus alvos era o ex-presidente Juscelino Kubitschek, cuja potencial candidatura à Presidência representava, para os militares, o perigo de retorno ao passado de agitação política. A afirmação é do brigadeiro da reserva Márcio Callafange, primeiro militar a confirmar a ação conjunta dos países do Cone Sul contra os opositores das ditaduras de Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai.

Ao falar sobre a integração das ditaduras, o brigadeiro, adido militar no Chile nos anos 80, revela que os agentes da repressão chilena contaram com amplo apoio do Brasil nos governos Medici, Geisel e Figueiredo. “Os chilenos faziam vários cursos, inclusive na Escola Nacional de Informações (Esni), em Brasília”, disse. “Se não fosse a solidariedade do Brasil, especialmente no governo Geisel, quando Jimmy Carter retirou seu apoio ao Chile Pinochet enfrentaria dificuldades”, lembra.

Foto: Prensa Três

Dúvida Morte do ex-presidente será apurada no Congresso

As informações de Callafange são confirmadas por um almirante, que menciona um relatório do SNI de 1984, no qual Tancredo Neves aparecia como perigo menor em relação ao que teria representado JK, que tornaria inevitável “o temido retorno ao passado”. Vinte e quatro anos depois, as suspeitas sobre o acidente ocorrido em 22 de agosto de 1976, na Via Dutra, voltam à ordem do dia. Uma carta do chefe do serviço secreto chileno, coronel Manuel Contreras, ao chefe do SNI, general Figueiredo, em 1975, comprova que JK era alvo das ditaduras. “A morte de meu pai deve ser investigada e o Congresso é a instância ideal”, afirma Márcia Kubitschek, filha do ex-presidente. O deputado Paulo Octávio (PFL-DF), genro de Márcia, pediu à Presidência da Câmara na quinta-feira 25 a criação de uma comissão para investigar o fato. Outra comissão, pedida por Miro Teixeira (PDT-RJ), já investiga a possibilidade de o ex-presidente João Goulart ter sido morto pela Operação Condor, três meses após o acidente de Juscelino.

JK viajava em um Opala de São Paulo para o Rio quando, na altura de Resende (RJ), seu carro atravessou a pista, chocando-se contra uma carreta que ia em sentido contrário. Na versão oficial, um ônibus teria batido no carro de JK. O motorista do ônibus, Josias de Oliveira, nega. Especula-se que o carro de JK tenha sido sabotado ou que seu motorista tenha sido alvejado por um tiro. Em 1996, a polícia do Rio reabriu o inquérito por causa dos questionamentos do mineiro Serafim Jardim, amigo de JK. Foi concluído que não houve atentado. Serafim, no entanto, aponta falhas na investigação. “O número do motor que consta do laudo pericial é diferente do número do Opala de JK”, garante. Jardim levanta dúvidas quanto à exumação do corpo do motorista do ex-presidente, Geraldo Ribeiro. “Foi encontrado em seu crânio um fragmento metálico que os peritos disseram ser um prego. Mas pode ser uma bala.”