Está cada vez mais difícil para o paulistano saber quem é o seu prefeito. Mergulhada no caos jurídico desde o dia 24 de março, quando uma liminar concedida pelo juiz Olavo Sá Pereira da Silva afastou o prefeito Celso Pitta (PTN) do cargo pela primeira vez (medida que foi suspensa dois dias depois), a maior cidade do País passou para o comando do vice-prefeito Régis de Oliveira (PMN) na sexta-feira de manhã, quando recebeu o cargo das mãos do próprio Pitta. A sete meses do fim do mandato da mais conturbada administração que a cidade já teve, ninguém sabe, no entanto, até quando o prefeito em exercício permanecerá no cargo. Isso porque os advogados de Pitta vão recorrer das decisões do Tribunal de Justiça de São Paulo de manter a liminar e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de negar recurso contra aquela decisão impetrado pela assessoria jurídica de Pitta.

A Justiça entendeu que a permanência de Pitta no Palácio das Indústrias poderia prejudicar a apuração das denúncias de improbidade administrativa. Na ação movida pelo Ministério Público, Pitta é acusado de usar o cargo para favorecer o amigo e empresário Jorge Yunes, que lhe emprestou R$ 800 mil.
Com tantos recursos e liminares, sobra pouco tempo para pensar no lodaçal de problemas em que a cidade está mergulhada. Desembargador aposentado, Régis de Oliveira assumiu a prefeitura preocupado com o pouco tempo que lhe resta para se inteirar dos problemas e tocar o barco. “A preocupação agora é ter elementos suficientes para saber o caminho que devemos trilhar”, disse, depois de receber a carta de demissão coletiva dos 19 secretários de Pitta. Num indício de que pretende se diferenciar do seu antecessor começando pelo perfil do seu secretariado, Régis anunciou desde já que dois cargos-chaves, os secretários de Governo e de Finanças, ficarão nas mãos de homens vindos do Judiciário, como ele.

Cuidadoso, o novo prefeito tratou logo de anunciar que não está em seus planos a idéia de se candidatar à Prefeitura de São Paulo nas eleições deste ano, explicando que não quer “confundir as coisas”. E prometeu abrir as portas do Palácio das Indústrias para as queixas do povo. “Todas as segundas-feiras, das 8h às 12h, pretendo receber as lideranças comunitárias para que elas façam suas reivindicações diretamente ao prefeito”, disse. Régis também acenou na direção da Câmara Municipal, afirmando que vai procurar todos os líderes partidários.

O prefeito em exercício terá de administrar vários pepinos deixados pelo antecessor. Um deles foi plantado no dia de seu afastamento do cargo. Pitta prorrogou por um ano contratos com empresas de limpeza e coleta de lixo que estão sob suspeita de irregularidades. Sem saber o que vai acontecer nos próximos dias, a população continua órfã de pai e mãe.


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