Ministério Público da Bahia está investigando denúncias de improbidade administrativa no município de Camaçari, cidade a 45 quilômetros ao norte de Salvador e sede do maior pólo petroquímico da América Latina. Os promotores suspeitam que o prefeito José Tude, do PFL, favorece amigos na contratação de empresas, além de gastar um mar de dinheiro em publicidade. O Tribunal de Contas dos Municípios aprovou as contas do prefeito, mas fez restrições: “A prefeitura não dispõe de eficaz controle interno.” O vereador José Raymundo Mônaco da Silva, do PSB, examinou a contabilidade do município e concluiu: “O prefeito está se apoderando do dinheiro público, efetuando pagamentos de obras com preços superfaturados e de outras nunca realizadas.”

De fato, há coisas estranhas. Desde que Tude tomou posse há três anos, Camaçari, com 160 mil habitantes, já gastou mais de R$ 15 milhões somente em publicidade. Mais que a cidade do Rio de Janeiro, com 5,5 milhões de habitantes. Em 1999, Camaçari gastou R$ 9,8 milhões e o Rio R$ 8,9 milhões. Cerca de R$ 12 milhões desse total foram pagos a um só empresário, Antônio Cláudio de Abreu e Souza, dono da MDA Publicidade e Comunicação Ltda. e da emissora de televisão local. Cláudio é amigo do prefeito e primo do vice-prefeito eleito, Helder Almeida de Souza, hoje deputado estadual. Quem também está feliz da vida é o deputado federal Félix Mendonça, dirigente do PTB, partido do prefeito até o ano passado, e dono da MRM Construtora Ltda., que fez várias obras na cidade. Uma semana depois da posse, Tude começou a quitar as dívidas da prefeitura com a empreiteira do correligionário. Foram R$ 6,7 milhões. “Não há nenhum favorecimento. Estamos apenas recebendo dívidas atrasadas corrigidas”, explica Mendonça. A MRM também construiu todo o sistema de água do litoral do município, um investimento de R$ 20 milhões já pagos.

Foto: Arlindo Félix

“Não há nenhum favorecimento. Estamos apenas recebendo dívidas atrasadas corrigidas”
Félix Mendonça, deputado federal (PTB), dono da MRM Construtora

O prefeito acabou com o quadro de advogados da prefeitura e contratou outro amigo, Euberlândio Guimarães, conhecido advogado que atende ao PFL, PTB e atua em ações de interesse do presidente do Congresso, senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA). Desde 1997 todas as ações da prefeitura passam pela banca de Euberlândio. O advogado recebeu em três anos R$ 1,3 milhão pelos serviços prestados. Euberlândio também assessorou o ministro da Previdência, o senador do PFL baiano Waldeck Ornellas. “O prefeito terá de explicar estes gastos estranhos e absurdos”, critica o deputado Jacques Wagner (PT-BA), candidato a prefeito nas eleições deste ano. Wagner quer uma investigação profunda sobre os investimentos da prefeitura e vai cobrar explicações sobre as liberações de verbas públicas para os amigos do prefeito. Tude lembra que suas contas foram aprovadas e garante que as denúncias são invenções dos opositores. “Isto é dor-de-cotovelo de meus adversários porque vou bem nas pesquisas eleitorais”, ironiza. Camaçari tem 160 mil habitantes e arrecada, em média, R$ 17 milhões mensais. Só perde para a capital Salvador. Uma riqueza quase irresistível.