Toda vez que o nome de um estilista brasileiro é citado em um editorial de uma revista internacional, o oba oba é ensurdecedor. Assim como o Japão nos anos 80 e a Bélgica na década passada, em 2000 o Brasil vive o frisson de entrar para o fechado circuito fashion representado Paris, Milão e Nova York. Além de haver exportado Gisele Bündchen, tem o frescor de ser um país sensual, que estabeleceu seu calendário oficial de desfiles há pouco mais de cinco anos, mas já capitaliza atenções. Depois de ver o Morumbi Fashion, em janeiro, a jornalista inglesa Isabella Blow escreveu um artigo na revista Style, do jornal Sunday Times, descrevendo o País como promessa de nova capital mundial da moda. Este mês, a gaúcha Gisele ilustra as capas da Vogue e da Elle americanas, como abre-alas para reportagens com elogios a estilistas brasileiros como Alexandre Herchcovitch, Fause Haten e Reinaldo Lourenço, também citados na Vogue francesa e na moderna Time Out, da Inglaterra.

A repercussão deixa o mercado em polvorosa, mas antes de soltar fogos, que tal um olhar com lentes de aumento? No seu festejado editorial de moda praia, publicado apenas uma vez por ano, a Vogue americana trouxe lindas modelos brasileiras em praias cariocas. No artigo de fundo, uma apologia à caipirinha e a descrição do biquíni brasileiro como um clássico. Mas atenção: as peças apresentadas eram de grifes tradicionais e grandes anunciantes como Prada e Dior. A paulistana Rosa Chá, que vende 30 mil peças por ano nos Estados Unidos e 12 mil na Europa e no Oriente, recebeu apenas uma menção de rodapé. O mesmo aconteceu com as também nacionais Rygy e Tufi Duek.

A situação é uma amostra de como, para vencer nesse mundo estrelado, não basta ter talento e carisma. Há quatro anos, o paulistano Alexandre Herchcovitch aportou em Nova York levando uma mochila com 30 de suas criações. Conhecido por dar vida às roupas femininas da Zoomp e desfilar suas coleções de vanguarda em Londres, ele já exporta 2 mil peças por ano mas só agora fará o primeiro desfile no calendário oficial do prêt-à-porter de Paris. Ele diz que o evento, marcado para outubro, no Louvre, será o auge da expressão de seu trabalho, mas a moda nacional precisa de tempo para rivalizar com a européia e a americana. "Resolvi mostrar meu trabalho em Paris quando notei que poucas editoras de moda importantes compareciam aos meus desfiles em Londres", afirma. "Mas acredito que no dia em que a moda do Brasil tiver uma grande produção, e vender muito, virão aqui para nos ver."

Atualmente, quem mais se empenha para isso é o empresário Paulo Borges, organizador do Morumbi Fashion. Em junho, na próxima edição do evento, considerado a semana oficial de moda do Brasil, gastará US$ 100 mil em passagens e hospedagem para jornalistas de publicações estrangeiras como Vogue, The Face, Bazaar e Allure. Ele também destinou um dia só para desfiles de moda praia e criou um kit cultural que inclui uma viagem de dois dias ao Rio de Janeiro e livros de referência sobre a arquitetura, a música, a moda e as artes plásticas do Brasil. "Se queremos ser a próxima capital da moda, temos de aproveitar esse momento e vender nossa imagem", afirma.

O caminho mais curto para a consagração internacional pode ser partir para o Exterior, como fizeram Ocimar Versolato e Inácio Ribeiro, da grife Clements Ribeiro. O curitibano Icarius de Menezes, 24 anos, estilista da linha feminina da Ellus há um ano, vai morar em Paris. Com um trabalho que une sensualidade e pesquisa de novos materiais, foi contratado pela Girault-Totem, um escritório de assessoria de imprensa especializado em revelar novos talentos das agulhas. "Quando recebi o convite, não pensei duas vezes", diz. "Nossa moda é comentada, bem-feita, mas não tem tradição. Cada semente que plantamos na Europa é como uma assinatura. As vendas virão depois."

Já Tufi Duek, dono da Forum e Triton, seguiu o tino comercial. Há dois anos montou um escritório de representação em Nova York para fazer seu produto chegar às lojas de departamentos. Suas criações inspiradas na Amazônia e em praias cariocas já estão em 80 pontos de venda dos Estados Unidos e no guarda-roupa de famosas como a atriz Meg Ryan e as cantoras Mariah Carey e Britney Spears. Explorando à vontade a nova excitação em torno da sensualidade latina, a Tufi Duek USA vende 30 mil peças por ano, e o proprietário avisa: "Só vai sobreviver quem souber e puder abastecer o mercado". Como se vê, no mundo da moda, os brasileiros precisam trabalhar muito para serem reconhecidos. Por ora, somos apenas um embrião fashion.

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