Nem astronautas nem cosmonautas. Os futuros conquistadores do espaço chamam-se taikonautas. Está-se falando da China, e após a bem-sucedida missão Shenzhou VII, encerrada na semana passada, o país planeja agora estar cada vez mais presente no cosmos. Os próximos passos serão o lançamento de uma estação espacial e o envio de astronaves à Lua e a Marte. Tecnologia para essa empreitada os chineses têm. Dinheiro, também. E motivação política, isso então nem se fala. A missão Shenzhou VII, por exemplo, só aconteceu nesse momento para aproveitar a onda ufanista da Olimpíada. Mais: o seu lançamento comemora os 59 anos da chegada do Partido Comunista ao poder. A China já enviara três missões tripuladas, mas essa é considerada especial: foi a primeira vez que um taikonauta realizou uma caminhada no espaço.

Os três taikonautas (designa quem vai para o espaço, assim como nos EUA há os astronautas e na Rússia, os cosmonautas) passaram dez anos se preparando para essa viagem, que durou 68 horas. O ápice da festa foi quando o coronel da Aeronáutica Zhai Zhigang vestiu o seu uniforme (made in China e ao preço de US$ 4,3 milhões), abriu as portas da nave e deu início à sua caminhada cósmica. A missão era objetiva e apologética do governo, justamente para incutir nos chineses o orgulho das futuras missões e tirar deles o apoio incondicional, independentemente de quanto o país tenha de gastar. Zhigang foi flutuando (de ponta cabeça) para apanhar um lubrificante que estava do lado de fora do veículo espacial e, assim, enfeitiçou os olhos dos bilhões de chineses que o assistiam ao vivo pela tevê. Ele ergueu a bandeira vermelha de seu país e declarou: "Estou me sentindo bem. Cumprimento daqui o povo chinês e o povo do mundo inteiro."

A missão chinesa surpreendeu o mundo, que estava esperando uma investida tripulada somente em 2018, e provou que o país entrou para valer na corrida espacial do futuro. Não faltam projetos. Um deles, anunciado na semana passada, dá conta de uma estação espacial produzida 100% na China. O objetivo é "realizar experiências científicas de grande escala" e criar uma "sólida base para utilização pacífica do espaço e exploração de seus recursos". Essa estação ajudará o país a avançar em projetos muito mais ambiciosos. Em 2017, por exemplo, a sua agência espacial lançará missão com robô para a lua. Se tudo correr bem, em 2020 serão os próprios taikonautas que pisarão o solo lunar. E o passo seguinte já está previsto: Marte, até 2040.