Um mês e meio depois da publicação da reportagem de ISTOÉ sobre as caravanas dos sacoleiros do ensino – que viajam uma vez por mês de várias regiões do País para Nova Iguaçu (RJ), onde simulam frequentar aulas da Universidade Iguaçu (Unig) e obtêm diplomas de licenciatura –, o esquema continua em operação. Assustados com a repercussão da reportagem, dirigentes da Unig enviaram aos alunos, através de fax e telefone, pedidos para que remetam os trabalhos escolares pelo correio, a fim de que a “presença” nos cursos seja comprovada. Assim, a situação ficou mais fácil. Não é mais necessário comparecer nem uma única vez.

A reportagem teve acesso a uma gravação na qual um representante da Unig passa orientações sobre os novos procedimentos para uma aluna, que é professora no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Ela se matriculou no curso de complementação em matemática e não quis pagar a mensalidade de R$ 205 ao mês com um acréscimo de R$ 51 de multa, exigidos após o adiamento das duas últimas viagens, em abril e maio. A Unig cancelou temporariamente as “romarias do diploma”, segundo um agenciador identificado como Carlos, de Belo Horizonte (MG), porque “a ISTOÉ ainda estaria por lá”. Os alunos, então, não pagaram as mensalidades pessoalmente na Unig nem assinaram presença. E a universidade decidiu cobrar multas.

“Não é porque vocês não vieram aqui que não vão pagar. Podem fazer o pagamento aí mesmo (na cidade de origem)”, disse, na gravação, o funcionário identificado como Marcos, do departamento financeiro da Unig. “Com aula ou sem aula (uma vez ao mês), temos que pagar a mensalidade?”, questionou a professora mineira. “Tem porque a senhora vai estar recebendo presença e as tarefas em casa”, informou Marcos. O agenciador Carlos, também na gravação, revelou que os organizadores vão mudar de estratégia. “Eles vão dividir (os dias de viagens) para a faculdade não ficar muito cheia. Cada turma vai numa data”, afirmou. Ele garantiu que o MEC esteve na Unig “mas está tudo certo” e “vai ter aula normal em junho”. O MEC já suspendeu os cursos de formação pedagógica e obrigou a universidade a fazer o recredenciamento de todos os outros. Caso não se enquadrem nas normas, poderão ser fechados.

Alunos da Unig têm procurado ISTOÉ para denunciar outras irregularidades. Eles afirmam, por exemplo, que o curso de medicina estaria recebendo alunos além do número de vagas previstas no vestibular. Cerca de 150 ex-alunos de fisioterapia reclamam do não reconhecimento do curso. “Não podemos trabalhar. Eles dizem que o MEC já teria dado a autorização e só falta a publicação no Diário Oficial. Mas o MEC diz que é mentira”, protesta César Ferreira, formado em 1999. O funcionário público Márcio Martins, formado em 2000, também está indignado. “Recebi só um certificado de conclusão e perdi um trabalho, no qual ganharia seis vezes mais”, queixa-se Márcio. A Unig continua a causar estragos, enquanto o MEC promete acabar com a fábrica de diplomas.