GUILLERMO KUITCA: FILOSOFIA PARA PRINCESAS/ Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP/ até 2/11

Guillermo Kuitca não é um frequentador assíduo do Brasil, mas sua obra fez parte de um dos capítulos mais famosos e polêmicos da história das Bienais de São Paulo. O artista estava entre os oito integrantes da representação argentina da 18ª Bienal que tiveram suas pinturas enfileiradas em uma “Grande Tela” de 100 metros de extensão, entre dezenas de pinturas de outros artistas alemães, italianos e brasileiros. A Grande Tela foi um comentário crítico da curadora Sheila Leirner à profusão de pinturas neoexpressionistas que chegaram à Bienal naquele ano por meio das representações nacionais. Nas três décadas que sucederam aquele ato subversivo da curadoria (não raro chamado de “ditatorial”), Kuitca não chegou a solidificar uma relação profissional com o Brasil. Embora viva em Buenos Aires, cidades como Londres e Madri foram muito mais receptivas ao seu trabalho do que São Paulo. Felizmente, hoje, 30 anos após sua primeira aparição por aqui, ele volta ao Brasil em uma notável exposição na Pinacoteca de São Paulo.

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CARTOGRAFIAS
Detalhe da instalação "Le Sacre", em que mapas imaginários
são desenhados sobre colchões

Com curadoria de Giancarlo Hannud, “Guillermo Kuitca: Filosofia para Princesas” oferece um panorama completo da obra do artista – com cerca de 50 trabalhos em desenho, pintura e instalação, realizados entre 1980 e 2013 – e revela uma preocupação com alguns dos grandes temas globais da atualidade: deslocamento, nomadismo, isolamento, solidão. Mais que tudo, nota-se na obra de Kuitca um conflito entre o local e o global. Isso está particularmente expresso no grande destaque da exposição, a instalação “Le Sacre” (A Sagração), de 1992, obra mostrada na Bienal de 1989, que hoje ocupa o Octógono, espaço central da Pinacoteca.

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CUBISMO
Pintura "Sem Título (Guille)", em que Kuitca faz citação à geometria modernista

A instalação é formada por 54 colchões, onde estão desenhados mapas reais e imaginários. Nessa espécie de mapa-múndi que configura o coração da exposição, o artista cria novas relações e vizinhanças entre cidades e regiões do mundo, de acordo com uma lógica pessoal e subjetiva. O fato de esse mapa estar desenhado sobre camas, o mais íntimo dos objetos da vida doméstica, acentua a polaridade entre local e global. Vale lembrar que, embora o nomadismo esteja entre seus principais temas, o artista nunca deixou de viver em Buenos Aires.
Entre as pinturas e desenhos expostos, é possível encontrar fortes vizinhanças com a produção da “Geração 80” de pintores brasileiros, que reuniu, entre outros, os artistas paulistanos da Casa 7, que compartilharam as paredes da Grande Tela com Kuitca. Em maio passado, antes que argentinos e brasileiros tivessem se enfrentado nas arquibancadas e entornos de estádios da Copa do Mundo, a Casa Daros jogou um foco de luz sobre o diálogo pictórico entre o argentino e o brasileiro Eduardo Berliner. 

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