O terreno onde um dia funcionou o autódromo de Jacarepaguá, na capital do Rio de Janeiro, hoje é um dos maiores canteiros de obras do Brasil. O ritmo frenético de escavadeiras, bate-estacas e caminhões carregados de milhares de toneladas de terra deixa claro que não há tempo a perder na construção do Parque Olímpico da Barra da Tijuca. A correria no complexo de um milhão de metros quadrados que sediará algumas das principais competições dos Jogos de 2016 – como natação, basquete e tênis – contrasta com a calmaria da Marina da Glória. Dali era possível observar, na semana passada, dezenas de veleiros competindo na regata internacional Aquece Rio, primeiro evento-teste para a Olimpíada realizado na cidade. As duas cenas são uma síntese da fase atual de preparação para o evento. De um lado, obras aceleradas e muita cobrança por evolução. De outro, uma cidade que já respira esporte.

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PRIMEIRO TESTE
Velejadores chegam à Marina da Glória após regata na
Baía de Guanabara: está melhor, mas precisa melhorar mais

Se a Copa do Mundo ensinou que o pessimismo diante da organização de grandes eventos no País é exagerado, a Olimpíada mostra que materializar um acontecimento desse porte está longe de ser um trabalho simples. “É a maior operação logística em tempos de paz”, afirma o diretor de operações do Comitê Organizador Local (COL), Leonardo Gryner. Paz, entretanto, não é exatamente o que o COL experimentou nos últimos meses. Em abril, após reclamações de atrasos no início das obras, o Comitê Olímpico Internacional (COI) interveio na cúpula do evento e mandou seus próprios especialistas para ajudar – e cobrar muito. Hoje, o clima é muito mais otimista, inclusive entre os estrangeiros. “Sim, estou confiante de que vai dar certo e tudo ficará pronto”, disse o diretor-executivo para os Jogos do COI, o suíço Gilbert Felli.

O otimismo é permeado por boas doses de alívio. Finalmente, todas as grandes obras foram iniciadas. Algumas, como as do Complexo de Deodoro, estão em fase inicial – os primeiros tratores começaram a mover terra no início de julho – e são consideradas críticas (confira quadro). Outras, como as da Vila Olímpica, que abrigará cerca de 16 mil atletas, na Barra da Tijuca, já estão mais de 50% completas. De acordo com a organização, o custo estimado para a realização dos Jogos Olímpicos – incluindo obras de infraestrutura, como a expansão do metrô, a modernização de portos e a construção de vias expressas para ônibus – está em R$ 37,6 bilhões. Até agora, 60% do valor veio da iniciativa privada. “Serão os Jogos da economia de recursos públicos, sem elefantes brancos”, disse o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que cita o estádio do Engenhão – sede das provas de atletismo – como exemplo de bom uso de estruturas já existentes. A arena, construída para os Jogos Pan-Americanos de 2007, passa por extensas reformas estruturais e ainda precisará receber uma pista completamente nova.

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COLOSSAL
Área do Parque Olímpico tem um milhão de metros quadrados:
obras na Barra da Tijuca avançam em ritmo frenético

Até os Jogos Olímpicos, o Rio de Janeiro ainda sediará ao menos 45 eventos-teste que mobilizarão mais de oito mil atletas. As competições acontecerão mesmo em localidades que ainda não estiverem finalizadas. “Não preciso testar o rúgbi com 20 mil lugares, posso fazer com cinco mil”, explica o diretor executivo de esportes do COL, Agberto Guimarães. O próximo evento será uma maratona, em julho de 2015, que avaliará aspectos como bloqueios de ruas, trânsito, segurança e cronometragem. O objetivo de todas essas competições é um só: identificar e sanar potenciais problemas para que eles não ocorram durante a Olimpíada. Problemas que, na Baía de Guanabara, sede das competições de vela e da regata internacional da semana passada, são muito claros. “A poluição da água atrapalha, sim”, diz a velejadora brasileira Isabel Swan. Mas ela afirma ter motivos para acreditar que, até os Jogos, a questão será resolvida. “Na comparação com competições anteriores, esta semana já foi muito melhor, e pode melhorar ainda mais.” Lição que também vale para a cidade e o projeto olímpico como um todo.

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Fotos: Lucas Bessel/Ag. Istoé; Guilherme Rosa/Blog do Planalto