Ter o nome de Mel Gibson nos créditos de um filme-cabeça pode ser considerado um trunfo de bilheteria. Com a idéia em prática, o diretor alemão Wim Wenders somou mais um tento na sua carreira, depois do recente sucesso do documentário Buena Vista Social Club. Em O hotel de um milhão de dólares (The Million Dollar Hotel, Alemanha/Inglaterra/Estados Unidos, 2000), com estréia nacional na sexta-feira 26, Gibson interpreta um agente do FBI enrijecido por uma coleira ortopédica, às voltas com o suposto assassinato de um junky endinheirado. A julgar pelo custo de US$ 8 milhões, o mais caro ator de Hollywood – cujo cachê já ronda a casa dos US$ 25 milhões – trabalhou praticamente de graça. Nenhuma generosidade, já que além de ser um dos produtores da fita, Gibson está parecendo um boneco de cera, tais são suas expressões imutáveis até diante da tragédia.
Baseado numa idéia do roqueiro Bono, vocalista da banda irlandesa U2, o filme tem como cenário um hotel decadente do centro de Los Angeles, onde se esconde uma fauna de drogados e malucos. Entre eles o autista Tom Tom (Jeremy Davies) e a avoada Eloise (Milla Jovovich), que vivem um conto de fadas underground. O desfile de esquisitices, bem acima das mostradas nas mais recentes histórias de Wenders, vem embalado pela bela trilha sonora de Bono e amigos, pela atmosfera noir e pelas imagens de tirar o fôlego. Faltam, no entanto, personagens e situações mais bem elaboradas, algo que sobrava em obras-primas como O amigo americano.