Depois de sem-terra, índios e caminhoneiros, foi a vez de a classe média enfrentar a polícia em mais um capítulo da série “o povo na rua”. Na quinta-feira 18, na capital paulista, cerca de cinco mil servidores públicos estaduais de várias categorias, entre elas a Saúde e o Poder Judiciário, e estudantes pararam a avenida Paulista durante algumas horas. Com transmissão ao vivo em rede nacional pela Bandeirantes e pela Record, os brasileiros passaram boa parte da tarde acompanhando um corre-corre que fechou o comércio e deixou, pelo menos, 25 feridos. Os manifestantes foram reprimidos pela Tropa de Choque e pela Cavalaria da Polícia Militar com bombas de efeito moral e balas de borracha – uma delas atingiu o fotógrafo Alex Silveira, do jornal Agora São Paulo, no olho esquerdo. Bem ao estilo brasileiro, os manifestantes responderam atirando cocos nos policiais, além de pedras e paus. O secretário de Segurança Pública do Estado, Marco Vinício Petreluzzi, admitiu que houve abuso, mas “das duas partes”. “Os manifestantes romperam a promessa de não bloquear o trânsito da avenida. Foi preciso reagir”, disse o secretário. Petreluzzi já avisou que vai continuar “agindo com energia nessas situações”.
Ao que tudo indica, as situações devem se repetir e Covas terá dor de cabeça nas próximas semanas. Preocupado que está com questões como a guerra fiscal, o governador pouco tem olhado para as mazelas dos servidores do Estado. Os professores das universidades estaduais de São Paulo (USP, Unesp e Unicamp), que também protestaram na avenida Paulista, estão em greve por reajuste salarial há quase 20 dias. Os funcionários do Hospital das Clínicas da capital, o maior do País, também dão sinais de que vão se aliar aos grevistas. Outra categoria que reivindica reajuste salarial ao governador Mário Covas é a dos metroviários – uma paralisação já foi anunciada para a próxima terça-feira 23.
O esboço do quadro de instabilidade está pintado. E é a capital, onde se concentra a maioria dos servidores descontentes, que deve voltar a assistir a cenas de “o povo na rua”. Resta esperar para saber qual será a reação do governo. A julgar pela manifestação da última quinta-feira, não se deve esperar final feliz: a intenção inicial dos manifestantes da Paulista era bater à porta da Assembléia Legislativa, mas não deu tempo. Ainda chegaram à praça da República, já cercada por policiais, e foram dali para casa.