A notícia de que soldados israelenses e manifestantes palestinos protagonizaram o pior confronto dos últimos três anos na Cisjordânia e na faixa de Gaza, que resultou em cinco mortos e cerca de 300 feridos, na segunda-feira 15, ganhou destaque na mídia em todo o mundo, inclusive no Brasil. No mesmo dia, uma batida policial nos morros do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, em Copacabana, provocou o mesmo número de baixas. Pouco depois da operação policial que buscava traficantes, os moradores das favelas desceram o morro revoltados e apedrejaram o que viam pela frente, trazendo o pânico nas ruas de um dos bairros mais famosos do Rio. Mas a repercussão foi bem menor do que a do choque no qual os palestinos também jogaram pedras contra os soldados, na região tida como das mais explosivas do planeta. Não se trata de coincidência. No Brasil, mata-se mais do que em qualquer região em guerra, segundo especialistas em violência.

O sociólogo Túlio Kahn, coordenador de pesquisa do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e Tratamento de Delinquentes, explica que os maiores índices de violência ocorrem justamente em países em desenvolvimento. Na América Latina e no Caribe, os números de homicídios por 100 mil habitantes ultrapassam os de qualquer outro lugar do mundo e o Brasil está em quarto lugar no triste ranking dos países mais violentos da região. ?No Brasil registram-se 37 mil homicídios dolosos por ano. Em termos de número de mortos, já ultrapassamos as regiões mais conflituosas do planeta. Nesse aspecto, é como se vivêssemos uma guerra civil?, constatou Kahn. Os índices de violência do Brasil, na região da América Latina e do Caribe, são superados apenas pelos dos vizinhos Colômbia, que enfrenta a guerrilha e o narcotráfico, Honduras e Jamaica. A explicação para a violência generalizada na América Latina é complexa e vai além da pobreza. A urbanização rápida e acelerada, a existência do tráfico de drogas, o fácil acesso a armas e ao álcool, a má distribuição de renda e a estagnação da economia são as principais causas apontadas pelo sociólogo. Alguns países em desenvolvimento, como os árabes, sofrem menos com a violência porque têm freios culturais, religiosos e morais, segundo ele.

?Um estudo comparativo mostrou que nos primeiros 31 meses de Intifada (levante palestino ocorrido entre 1987 e 1993 nos territórios ocupados e no setor árabe de Jerusalém) houve 670 mortes, mesmo número de vítimas registradas em São Paulo no mesmo período?, lembrou Kahn. Apesar de ser um dos países líderes em violência, o Brasil já teve avanços no que se refere à conscientização das forças policiais. O sociólogo lembra que a partir de 1992, quando ocorreu o massacre do Carandiru, foram instituídas algumas novidades, como a criação, em São Paulo, da Ouvidoria da Polícia, e a instituição da matéria Direitos Humanos no currículo de formação dos policiais, que passaram a ser orientados a não mirar nas partes letais das pessoas.

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