Foi Ronnie Von quem batizou os Mutantes. O Príncipe da Bossa Nova, na época dono de um prestigioso programa na TV Record, lia “O Império dos Mutantes”, de Stephan Wul, quando cruzou com o colorido trio composto pelos irmãos Arnaldo e Sérgio Batista e pela sílfide loira Rita Lee, autodenominados O Konjunto.

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DISCO A JATO
Capa de "Mutantes", de 1969, relançado agora em CD (abaixo).
O vestido de noiva de Rita Lee foi emprestado por Leila Diniz,
já um símbolo da liberdade sexual feminina

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A banda aceitou a sugestão e em outubro de 1966 fazia sua primeira aparição televisiva. Começou aí uma estrada que, temperada com experimentações musicais e lisérgicas, estabeleceu um ponto fora da curva da MPB brasileira. Mais: criou uma intersecção entre as correntes que alimentavam os festivais de música, transitando entre a nascente tropicália e o rock progressivo e se infiltrando em recantos mais intocados da geração contaminada pelo movimento hippie americano. Os sete CDs que saem agora em uma caixa de luxo organizada por Alice Soares e Rodrigo Faour para a Universal Music passam pela etapa da primeira formação da banda – a fase em que os Mutantes tiveram Rita Lee. Estão incluídas aí passagens históricas como a criação, com Gilberto Gil, de “Domingo no Parque”, segundo lugar do Festival de Música da TV Record de 1967. De acordo com o organizador, a apresentação dos Mutantes foi “um delírio para uns e um choque para outros”. “Eles foram os primeiros a usar guitarras elétricas para acompanhar música popular brasileira, ainda mais de raiz nordestina, causando comoção dos tradicionalistas em forma de muitas vaias”, escreve Faour no catálogo que acompanha a caixa. Em 1972, os irmãos Batista queriam uma direção menos irreverente para o trabalho. E a coleção termina aí, com a saída da ovelha negra Rita Lee da banda que fabricava os próprios instrumentos. Dizem que não foram poucas as brigas que desembocaram na cisão do trio. A versão oficial é que a vocalista só queria continuar fazendo graça. Conseguiu.