Eles tiveram passaportes cassados, fichas registradas em delegacias de dezenas de cidades por onde passaram, julgamentos por crimes como tráfico, ofenderam de várias formas os governos de muitos dos países que os receberam e nunca fizeram questão de esconder dos maridos traídos os relacionamentos com suas esposas. Seguindo a regra número 1 do código da pilantragem – negar até o fim –, engambelaram com um charme cínico juízes, gravadoras, mulheres e uns aos outros sempre que a situação pediu. Autor das festejadas biografias autorizadas de Mick Jagger (1993) e Keith Richards (2003), Christopher Sandford tinha jurado não escrever mais sobre a banda inglesa mais rentável da terra. Mas em 2007, depois de 147 apresentações, os músicos arrecadaram nada menos de US$ 560 milhões – US$ 3,8 milhões por show –, então ele decidiu juntar tudo o que tinha de inédito e vasculhou até os arquivos do FBI, além de ouvir mais pelo menos 300 pessoas que provavelmente os músicos não gostariam em seus perfis oficiais para tentar explicar o motor incessante do fenômeno cultural que move pequenas multidões há mais de meio século. Com o corajoso título “The Rolling Stones – A Biografia Definitiva”, o livro com entrevistas e passagens inéditas chega ao País ao mesmo tempo que duas produtoras brasileiras disputam a vinda da banda para quatro apresentações em fevereiro do ano que vem – com as negociações girando em torno de US$ 6 milhões. “Há uma linha de pensamento que diz que voltar para a estrada depois dos 60 anos foi a coisa mais indigna que os Stones já fizeram”, escreve o autor na abertura do livro. Em entrevista à ISTOÉ, Sandford contou que, sem a anuência de seus integrantes, obteve informações novas do diário de Ian Stewart, integrante da banda morto em 1985, e o pronunciamento de músicos como Dave Mason, Jack Bruce, Tommy James, Grace Slick, Terry Reid e Johnny Winter, que nunca tinham falado sobre sua relação com os Stones. “Mick Jagger permitiu que eu fizesse uma longa entrevista com seus pais”, escreve ele. “Dito isso, devo deixar claro que os membros sobreviventes da banda não colaboraram com o livro e que vários de seus amigos com quem entrei em contato na tentativa de agendar uma entrevista me disseram, depois de ‘checar’, que preferiam não falar.” Outros, admite o biógrafo, “aproveitaram a oportunidade para abrir o verbo comigo”.

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NEGÓCIOS À PARTE
Charlie Watts, Keith Richards, Mick Jagger e Ron Wood,
sócios da banda que mais lucrou com shows no mundo

Se nos anos 60 e 70 os Stones perderam passaportes, filhos e amigos, hoje eles tem um império a zelar. Um império mais financeiramente durável que algumas das marcas mais consolidadas e antigas do mundo. De acordo com a “Furtune”, o logo da língua é tão lembrado e reconhecido quanto a marca da Nike. Assim, se todos souberam que a primeira mulher de Jagger, Marianne Faithfull, lutou para deixar as drogas depois da separação do vocalista, pouco se ouviu do volume de entorpecentes que viajava com o casal na época da gravidez da atriz. Muito menos da depressão com o aborto sofrido no mesmo momento em que Anita Pallenberg – mulher de Keith Richards e amante de Jagger – também os acompanhava em viagens, grávida, carregando injeções de heroína e haxixe dentro das roupas íntimas. “A polícia é um hábito caro”, teria dito Richards nos anos 70, em um dos muitos julgamentos de que foi liberado apesar do flagrante com drogas, que alegou serem para consumo próprio – mas que poderiam abastecer Piccadily Circus.

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Fotos: David Parker/Rex Features, Sunshine/ZUMApress – Glow Images; CAMERA PRESS/KEYSTONE BRASIL