O oftalmologista Claudio Lottenberg teme que a interpretação dada ao atual conflito entre Israel e o Hamas possa despertar uma reação antissemita no Brasil. Segundo ele, o que Israel tem feito é uma resposta ao radicalismo terrorista do Hamas.

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ISTOÉ – Os críticos de Israel dizem que a operação militar em Gaza é desproporcional, especialmente pela quantidade de mortos no lado Palestino.
Claudio Lottenberg –
Essa é uma leitura equivocada. Não se trata de nenhuma população desprotegida. Existe um grupo armado até os dentes. A quantidade de túneis descobertos a cada momento e a capacidade bélica desse grupo mostram que o Hamas não tem nenhuma finalidade pacifista.

ISTOÉ – Por que tantos civis do lado palestino morreram?
Lottenberg –
Não é que Israel ataca civis, mas os terroristas usam escudos humanos e colocam armas entre os civis. Israel tem de fato um poderio militar muito grande, mas seu Exército não está se defrontando com alguém que não tenha algo parecido. O Hamas vem atacando Israel há mais de um ano, atirando foguetes contra civis. Não é algo desproporcional. Trata-se de um Estado que foi provocado e está reagindo. Quando se entra numa briga, é preciso lidar com a força de seu adversário.

ISTOÉ – Não existe outra maneira de combater o Hamas?
Lottenberg –
O que Israel tem de fazer é encontrar um caminho de paz junto ao povo palestino, com a criação de um Estado palestino, com fronteiras seguras, onde se possa viver em paz. O problema é que os palestinos estão profundamente divididos entre o Fatah, representado pelo Mahmoud Abbas, que é a favor do diálogo, e um lado incontrolável, que é o Hamas, que ocupa a região de Gaza. O Hamas não admite nenhuma conversa, tem o desejo único de destruir o Estado de Israel. Nem os cessar-fogo são respeitados. O que todos queremos é uma situação de paz permanente.

ISTOÉ – Quem financia o Hamas?
Lottenberg –
Se o Hamas tivesse aceitado conversar, se não tivesse investido em material bélico, teria colocado dinheiro em escola, hospital, e a situação seria outra. A região de Gaza foi entregue aos palestinos em 2005, quando Ariel Sharon, visto como um homem radical, comandava o governo israelense. O que aconteceu é que criaram um verdadeiro arsenal bélico lá. A opinião pública tem de entender que esse problema não é do Oriente Médio, é do mundo todo. Existe alguém financiando o Hamas, mas financiar o processo de paz ninguém quer. Se houver boa vontade do outro lado, Israel quer que a paz seja alcançada.

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ISTOÉ – O sr. acredita que há um sentimento crescente de antissemitismo na opinião pública?
Lottenberg –
O antissemitismo passou ao largo da história com algumas feições. Na fase de colonização de nosso país, ele tinha caráter religioso. Num passado mais recente, quando presenciamos o holocausto, ele ganhou uma conotação racial. Agora as pessoas dizem que não têm nada contra os judeus, mas têm contra Israel. Então, ganhou uma conotação contra a identidade nacional judaica, é um antissionismo.

ISTOÉ – Qual é o risco disso?
Lottenberg –
Isso me preocupa, porque cria um sentimento de intolerância contra uma comunidade, o que transpassa o limite geográfico de Israel e atinge todos nós. Temos de trabalhar para que o conflito não seja incorporado ao Brasil.

ISTOÉ – O que o sr. achou da posição do governo brasileiro ao condenar o que a presidenta Dilma Rousseff classificou como o “massacre” de Israel contra o território palestino?
Lottenberg –
Tenho minhas dúvidas sobre se ela usou a terminologia adequada. A Dilma apelou para um posicionamento que, a meu ver, é exagerado.

ISTOÉ – Ainda é possível uma solução pacífica?
Lottenberg –
A paz é possível desde que as partes queiram verdadeiramente conversar. Israel já deu sinais positivos de que deseja dialogar. Os palestinos se manifestaram de maneira concreta pelo Abbas, mas ele precisa exercer sua força política para trazer à mesa o grupo que não quer conversar. Os radicais estão se preparando para uma verdadeira guerra, entretanto, parece que só se mostra o que acontece na outra ponta. Mas ninguém quer a morte de civis.

Foto: Sergio Castro/Estadão


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