Na quarta-feira 30, a presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, adicionou mais um fracasso à série impressionante de infortúnios de seu governo. Após dez horas de negociações em Nova York, nos Estados Unidos, emissários enviados por Cristina não chegaram a um acordo com credores, que alegam ter o direito de receber mais de US$ 15 bilhões em títulos não quitados. Para o advogado Daniel Pollack, indicado pela Justiça americana para mediar as conversas entre o governo argentino e os fundos, o impasse representa um calote. A questão é complexa. Em 2001, o governo provisório de Adolfo Rodríguez decretou o não pagamento de US$ 81 bilhões devidos a credores privados. Em 2005, o valor foi renegociado com a maioria deles, resultando na diminuição significativa do saldo devedor – desde então, a Argentina tem honrado o que foi assinado nessa rodada de negociações. Um grupo, porém, não aceitou a proposta e foi aos tribunais para receber o valor integral da dívida. É isso que está em jogo agora. Cristina diz que não se trata de calote porque vem pagando regularmente os fundos que aceitaram reestruturar a dívida. Os outros fundos, apelidados de “abutres” pelo governo argentino, se dizem amparados pela lei e reforçam a tese do calote.

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ATRASO
A presidenta Cristina Kirchner enfrenta
inflação em alta e emprego em baixa

Cristina Kirchner acumula insucessos que podem custar caro nas eleições presidenciais de 2015. No campo econômico, há muito tempo o país coleciona indicadores negativos. A Argentina está em recessão (projeções indicam que o PIB pode encolher 1% em 2014), o peso não para de se desvalorizar, a inflação anual perto de 25% corrói salários e empregos e, nos últimos dois anos, investidores estrangeiros deram as costas para o país. Na política, Cristina perdeu o apoio de antigos aliados e enfrenta uma oposição cada vez mais feroz. Para o Brasil, a crise pode provocar danos. Terceiro maior destino das exportações brasileiras, a Argentina é um mercado fundamental, especialmente para a indústria automotiva do País. Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a Argentina não deu novo calote em sua dívida externa. “Eu não creio que a Argentina esteja em default (calote), porque ela está pagando suas dívidas”, disse Mantega. Questionado sobre o impacto para a economia brasileira, o ministro tentou minimizar os efeitos negativos. “Num primeiro momento, não tem impacto nenhum”, disse.

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Foto: Xinhua News Agency/Eyevine