O gosto é meio amargo. Natural, ou nos sabores chocolate e morango, se não for comido em 15 minutos, derrete. A descrição poderia ser de um novo picolé, mas está longe disso. É a síntese de um fetiche que está arrebatando fãs: a lingerie comestível. Calcinhas, sutiãs e cuecas para lamber, mastigar e engolir estão na moda entre os produtos eróticos. As vendas, segundo importadores e fabricantes nacionais do produto, crescem 40% ao ano. Para Alexandre Figueiredo, da Gaia, Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento de Produtos Eróticos, esse crescimento é reflexo de uma mudança de comportamento. “As pessoas deixaram de confundir erotismo com sacanagem. Assumem, sem culpa, seus desejos e curiosidades”, diz.

Agrônomo de formação, Figueiredo afirma ser o precursor na fabricação de lingeries comestíveis no Brasil. “Ficamos sete anos estudando diversos ingredientes para formular uma roupa de baixo saborosa e que não apresente danos à saúde”, conta ele. Apesar de não revelar a fórmula do sucesso, o produtor garante que suas calcinhas e cuecas são mais nutritivas e saudáveis do que as importadas. “As concorrentes foram banidas do mercado americano por um tempo porque continham substâncias cancerígenas. Nós não sofremos esse risco”, afirma. No Brasil, tanto a Vigilância Sanitária quanto o Ministério da Saúde desconhecem a existência das lingeries comestíveis. Portanto, não assinam embaixo.

Mistura de hidroxi-propil metil celulose – uma fibra natural que lembra gelatina – com adoçantes dietéticos como aspartame e sacarina, as peças íntimas estão mais para plástico com sabor amargo de adoçante do que para lingeries de verdade. “O FDA (órgão americano responsável pela fiscalização de remédios e alimentos) liberou a venda desse produto nos Estados Unidos”, garante um importador, que, com medo da reação do Ministério da Saúde brasileiro, prefere não se identificar. A nutricionista paulista Maria Luiza Ctenas alerta para os riscos do fetiche: comer calcinhas demais pode dar diarréia. “Aspartame ou sacarina em grandes doses têm efeito laxante”, explica.

A comerciante Aparecida Catarina, 32 anos, não está muito preocupada com os danos. Satisfeita com a “esquentada” de seu casamento desde que o marido lhe presenteou com uma calcinha Gaia, a moça recomenda a fantasia. “Depois de muito tempo é inevitável que a relação comece a esfriar. As calcinhas e cuecas comestíveis são um ‘gostinho’ a mais que ajudam a quebrar a monotonia”, diz. A primeira peça, Aparecida ganhou em março, no aniversário de casamento. Desde então, o casal já comprou mais de 15 calcinhas, cuecas e sutiãs. “Estou tão contente que minhas amigas começaram a imitar.” Ninguém estranhe se calcinhas e sutiãs começarem a lotar a despensa.