Tido como uma das personalidades mais talentosas do futurismo italiano – movimento do início do século que procurava reproduzir na arte o frenesi da vida moderna que se iniciava –, Giacomo Balla (1871-1958) ganhou uma bela e rara retrospectiva, em cartaz na Pinacoteca do Estado, em São Paulo. Concebida especialmente para o museu paulistano, a mostra Giacomo Balla 1894-1946 – da io Balla a Ball’io soma 93 obras. Algumas delas, pertencentes aos seus herdeiros, nunca haviam sido expostas nem na Itália. Trata-se de uma oportunidade única de se conhecer a obra de um artista que não se impunha limites. Abarcando todas as fases da sua produção, a mostra reúne em sete salas pinturas, desenhos, tapeçarias, biombos, projetos para pintura mural e objetos decorativos, como as famosas flores futuristas, reconstruídas a partir de esboços do autor. É um conjunto que dá a exata medida de seu estilo vital, alegre e sempre experimentalista.

Segundo o curador Renato Miracco, foi muito difícil juntar essa quantidade de obras, pois os trabalhos de Balla que não foram destruídos pela guerra se encontram hoje dispersos pelo mundo. “Há pelo menos 35 anos não se fazia uma retrospectiva tão completa dedicada a ele.” Não vieram, por exemplo, telas importantes, entre elas Dinamismo de um cão à trela (1912) e A mão do violinista (1912), que marcam o início da pesquisa do artista com a decomposição do movimento, à maneira das fotografias de Etienne Jules Marey. Em contrapartida, estão lá exemplares de sua fase divisionista inicial, com paisagens influenciadas pelo impressionismo francês, os raríssimos estudos sobre o dinamismo de formas e cores, considerados precursores da op art, e as últimas telas figurativas.

O nome da exposição se refere aos dois auto-retratos que abrem e fecham a mostra – io Balla (1894-95) e Ball’io (1940) – dispostos frente a frente. Ao longo das salas pode-se admirar a revolução colorida empreendida pelo artista, na qual se destacam telas abstratas feitas de letras estilizadas a exemplo de Motivo com a palavra bom apetite nº 55 (1925). Na tentativa de sepultar a arte do passado, Balla abraçou como ninguém o lema do futurista-mor, o poeta Filippo Tommaso Marinetti, segundo o qual um automóvel estridente poderia ser mais belo que a escultura grega Vitória de Samotrácia, buscando assim representar na tela o movimento das coisas. Sem esgotar suas pesquisas plásticas recheadas de idéias científicas, mais tarde Balla mergulhou no ocultismo em busca das “formas-espírito”. Não satisfeito, quis também revolucionar o cotidiano. Sonhava com trajes fluorescentes e multicoloridos que transformariam as ruas numa sinfonia de caleidoscópios. Bons tempos aqueles em que muito ainda estava por ser feito na arte.