Remediações – Beto Shwafaty/ 3ª e 4ª Temporada de Projetos, Paço das Artes, SP/ até 7/9

O Brasil que em séculos passados atraiu expedições artísticas e científicas ao coração da floresta é a condição ancestral do país moderno, hospitaleiro e “de alegria contagiante”, que este ano sediou a Copa do Mundo da Fifa. O elemento propulsor do interesse internacional foi, em ambos os casos, a construção de uma imagem de exotismo. O paulistano Beto Shwafaty, que viveu, estudou e trabalhou na Alemanha e na Itália entre 2008 e 2012, teve tempo para observar de longe esse Brasil idealizado, verificando como os discursos de modernização estão na raiz da propaganda oficial. Como resultado disso, o artista vem realizando, desde 2010, o projeto “Remediações”, que se refere aos processos de modernização em curso no Brasil desde o nacional-desenvolvimentismo dos anos 50 e 70 até hoje, apontando para suas falhas e seus efeitos colaterais.

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IMAGENS DO PAÍS
Mobiliário popular brasileiro é utilizado em instalação de Shwafaty
e vídeo discorre a respeito da produção de clichês sobre o Brasil

Em exibição no Paço das Artes, a instalação “Remediações” é formada por intervenções gráficas sobre impressos de fotografias que veiculam ideias de progresso, um vídeo e uma escultura em forma de mobiliário modernista. “Cada trabalho é uma colisão entre discursos; entre o projeto e sua concretização”, diz o artista à ISTOÉ. As intervenções gráficas de Shwafaty sobre a ponte Rio-Niterói, a catedral de Brasília ou a estrada Transamazônica atribuem às imagens “mais uma camada de conflito”.

O mesmo recurso de inserções de formas geométricas (o que acaba por remeter à tradição do abstracionismo geométrico brasileiro – a mais bem-sucedida imagem de exportação da arte brasileira) é usado no vídeo de mesmo nome. O vídeo, em que Shwafaty faz colidir imagens do geógrafo Milton Santos, do Zé Carioca e dos governantes da ditadura, também pode ser acessado na curadoria “Anunciantes”, realizada por Ana Maria Maia para a revista digital “Plataforma”, dedicada a apresentar um panorama da arte contemporânea brasileira para o público estrangeiro.

“Remediações” é, portanto, um trabalho sobre a produção de imagens do Brasil, mas também de fissuras históricas. Mas avisa que o Brasil, que sempre conhecemos como o país dos contrastes, é agora também o país das colisões.

Fotos: Edouard Fraipont e Renata Siqueira Buemo