Maravilha das maravilhas, nos dias de hoje, seria ter um emprego na Internet, longe da velha economia eternamente ameaçada pelo desemprego. A maioria das pessoas associa essa possibilidade a perspectivas promissoras, num trabalho charmoso e criativo, em ambientes high tech e num mercado em expansão.

Pode ser, para a meia dúzia de donos das empresas do setor. Mas as condições de trabalho dos empregados lembram os ambientes de trabalho bitolado, repetitivo e policiado do capitalismo tradicional. Pelo menos é o que sugere o artigo Os cibermalditos, de Serge Halimi, publicado no Le Monde Diplomatique de fevereiro. O exemplo escolhido é o da Amazon.com, uma “empresa de bandeira” da economia “ponto.com”. Criada em 1995, vale mais do que todas as principais cadeias de livrarias americanas juntas. O seu fundador, Jeff Bezos, é dono de uma fortuna superior a US$ 4 bilhões. Já o trabalho dos empregados é menos lucrativo e muito menos criativo. Centenas de pessoas, na maioria jovens, solteiras e com boa formação, trabalham na sede em Seattle, nos Estados Unidos, em escritórios gigantescos com uma vista magnífica, repartidos em cubículos estreitos e compartilhados. Com fones de ouvido conectados a linhas telefônicas e os olhos grudados na tela do computador, manejam milhões de encomendas de livros, discos e outros produtos recebidas por e-mail.

Alguns gerentes da Amazon referem-se aos empregados como “peões eletrônicos”. São obrigados a se concentrar na meta de produção, de atendimento a 12 e-mails por hora. Quem processa menos de sete e-mails por hora é demitido. Qualquer contato telefônico superior a quatro minutos é motivo para uma advertência. As conversas devem ocorrer num tom de voz “alto o suficiente para o cliente ouvir e baixo o suficiente para não perturbar os colegas de cubículo”, como definiu um ex-empregado da Amazon. “É como na China comunista do período de Mao Tsé-tung”, comparou um dos empregados da linha de produção da nova economia. “Você é constantemente pressionado a ajudar o coletivo. Se falha nisso, é como se estivesse indo contra a sua família.” O caráter da “família” criada pela Amazon ficou claro num evento organizado pela empresa no último mês de setembro, intitulado Loucura da meia-noite, uma maratona de processamento de ordens recebidas por e-mail. O jogo, anunciado pela mensagem “você pode dormir quando estiver morto”, consiste em trabalhar à noite processando o máximo possível de ordens recebidas por e-mail. O vencedor é premiado com US$ 100. Richard Howard, um ex-empregado da Amazon, tem dúvidas sobre o caráter revolucionário das relações sociais na nova economia: “Trata-se de um trabalho rude e sempre tem alguém querendo atropelar você. O que isso tem de revolucionário e novo? A única diferença é que muitos supervisores usam piercings nas orelhas e vestem roupas de couro.”