O espetáculo itinerante apresentado pelo ministro argentino Domingo Cavallo – que nos primeiros 45 dias de sua gestão já esteve nos EUA, no Brasil, na Espanha, França, Grã-Bretanha e Canadá – mostrou-se, até agora, um fracasso junto ao público e à crítica. Em 8 de maio, o governo argentino leiloou mais US$ 350 milhões em bônus de 90 dias e só conseguiu vendê-los com uma taxa de juros de 12,44%, bem superior aos 10,35% do mês anterior. Horas depois, a agência americana Standard & Poors rebaixou as notas da dívida argentina, equiparando-a à de países praticamente falidos, como Equador, Indonésia ou Turquia.

Ficou mais difícil a troca de títulos (swap) com que se pretende reanimar a economia argentina. Como os títulos de dívida dispersaram-se entre inúmeros investidores, hoje é impossível chamar os credores para negociar uma revisão das condições de pagamento, como os governos em dificuldades faziam nos anos 70. Para convencer os portadores de US$ 20 bilhões em bônus que vão vencer a curto ou médio prazo (até 2005) a trocá-los por outros de longo prazo é preciso oferecer uma taxa de juros mais atraente. Mas, se alguém pede 12,44% para emprestar dinheiro por três meses, quanto pedirá se for por 20 anos?

Para complicar a tarefa de Cavallo, Stanley Fischer, arquiteto de todos os pacotes de socorro financeiro do Fundo Monetário Internacional desde a crise do México, renunciou a seu cargo. A futura política da instituição, até agora tolerante com o não-cumprimento de metas pela Argentina, tornou-se uma incógnita. Ainda em 4 de maio, o FMI perdoou um estouro de US$ 1 bilhão na meta de US$ 2,1 bilhões para o déficit público do primeiro trimestre e liberou mais US$ 1,26 bilhão do pacote de “blindagem” financeira negociado no final de 2000. Dias depois, foi divulgado o déficit de abril: US$ 0,9 bilhão. Para cumprir as metas para o resto do ano, será preciso reduzir esse déficit mensal em 50% em maio e junho e em 70% no segundo semestre.

Um corte de despesas suficientemente radical para atender às metas pode ser mais do que o sistema político argentino tem condições de suportar. Mas, se as metas não forem cumpridas e o FMI se aproximar das posições de economistas do novo governo americano – que consideram tais pacotes desperdício de recursos –, a crise financeira pode se precipitar. Talvez seja a esperança de conquistar a tão necessária simpatia da equipe de Bush que esteja levando Cavallo a pregar o alinhamento incondicional com os EUA e o rompimento com o Mercosul.