O humor cada vez mais ambivalente da economia americana está confundindo os analistas. Depois de meses de discussões sobre a severidade da suposta recessão – embora os indicadores de consumo, renda pessoal e confiança do consumidor continuassem positivos –, a Casa Branca divulgou, em 27 de abril, que o PIB havia crescido 2% no primeiro trimestre e mais uma vez se pôde zombar das previsões dos economistas. Mas, na semana seguinte, foi divulgada a maior redução no número de postos de trabalho desde 1991, a elevação do desemprego para 4,5% e, logo depois, a primeira queda da produtividade desde o início da febre da “nova economia”: menos 0,1% no primeiro trimestre.

As estatísticas parecem mostrar que o consumo (dois terços do PIB americano) realmente cresceu, junto com as horas trabalhadas e os salários do comércio e dos serviços ao consumidor, mas as vendas no atacado estão em queda (-1,3% em março) e a indústria está demitindo em massa. A redução das taxas de juros por Alan Greenspan, presidente do Fed (Banco Central americano), foi positiva sobre o ânimo do consumidor, mas não sobre o dos industriais. A procura do comércio e dos serviços mantém os salários em alta, pressionando a indústria, já afetada pela crise de energia que impôs o racionamento na Califórnia (14% da economia) e no último ano aumentou 34%, em média, as tarifas de eletricidade e do gás natural. Sem conseguir repassar esses aumentos ou compensá-los com mais produtividade, o setor produtivo adia novos projetos e corta custos para combater a queda dos lucros. O próprio consumidor, apertado com a alta da gasolina e da eletricidade, tira pouca vantagem do aumento nominal de salário.

Também lá, a crise energética deve-se à falta de investimentos em refinarias, gás natural e termoelétricas. A desregulamentação tornou mais arriscados os novos projetos nessas áreas. Ao mesmo tempo, os preços baixos da energia não proporcionavam um lucro realmente interessante. Investir em internet e novas tecnologias parecia muito mais atraente.

O Fed encara um dilema. Reduzir mais as taxas de juros pode impulsionar importações, custos de mão-de-obra e inflação, sem fazer a produção reagir. Se voltar a aumentá-las pode esvaziar o balão do consumo e lançar a economia dos EUA numa recessão sem meios-tons. Todos os países cujas economias dependem de exportações para o mercado americano também seriam afetados.

Os próximos indicadores de inflação serão importantes, mas a chave é a produtividade. Se crescesse no ritmo dos anos anteriores, os salários não pressionariam os custos e não haveria motivo para temer a inflação. O índice negativo tende a ser passageiro, mas também pode significar que a tecnologia tem menos poder do que se imaginava contra o ciclo econômico e as limitações da infra-estrutura. Em outras palavras, a “nova economia” não dispensa as empresas de buscar lucro e limitar seu endividamento; e a difusão dos computadores e da internet não substitui investimentos em geração – ou economia – de energia.

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