Conservador empedernido, o desconhecido Pastor Everaldo (PSC) decidiu, ainda em 2011, que o primeiro cargo eletivo que disputaria seria o de presidente da República. A partir de então, começou a preparar terreno para a candidatura. A obsessão do pastor pelas eleições de 2014 provocava risadas até mesmo nos assessores mais próximos. Agora, em quarto lugar com 2,6% das intenções de voto (cerca de três milhões de eleitores) em todo País e empatado com o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) em alguns Estados, Everaldo passou a meter medo no Palácio do Planalto. Não que o candidato do PSC possa ameaçar a liderança da presidenta Dilma Rousseff, mas ele pode ajudar a levar a eleição para o segundo turno – tudo o que o PT mais teme neste momento. E o pastor da Assembleia de Deus, a maior denominação evangélica do País, garante que não há qualquer chance de abrir mão da candidatura. “Não tem negociação. Vou até o final”, assegura. A avaliação de especialistas e cientistas políticos é de que Everaldo tem potencial de crescimento ao ampliar o leque do eleitorado evangélico para a direita conservadora. “Somos um partido de centro-direita conservador”, define Everaldo.

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MUITO ALÉM DO VOTO EVANGÉLICO
Em quarto lugar nas pesquisas, Everaldo contabiliza três milhões
de votos e ajuda a levar a eleição para o segundo turno

Os eixos principais do programa de governo do candidato do PSC ao Planalto são a defesa da família e o fortalecimento das Forças Armadas. Expressões como “recriação dos laços afetivos e morais da sociedade” e “exercício da liberdade que impõe custos para terceiros” soam muito bem para a parcela conservadora do eleitorado. Everaldo defende ainda uma economia livre a partir do empreendedorismo individual, com mínima intervenção estatal, a modernização da infraestrutura e da mobilidade urbana com parcerias público-privadas e plena concorrência. No programa de governo também estão listadas a reforma na educação e na saúde com descentralização da gestão, a preservação do valor real das aposentadorias e uma reforma política que reduza gastos de campanha. O pastor prega ainda o fim do voto obrigatório. Coube ao marqueteiro argentino Jorge Gerez a tarefa de polir a imagem do líder evangélico, transformando-o numa alternativa para os eleitores identificados com plataformas de direita. A equipe de marketing do pastor também tem apostado nos eleitores que votaram na evangélica Marina Silva, em 2010, mas que agora se revelam insatisfeitos com a aliança da ex-senadora com o socialista Eduardo Campos. A ideia é atrair as lideranças religiosas para a campanha e transformá-las em verdadeiros cabos eleitorais pelo País.

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O que limita o crescimento do pastor é a falta de estrutura partidária e verbas. Se comparada com os concorrentes, a campanha de Everaldo será modesta, com teto de R$ 50 milhões. Hoje, para economizar, ele percorre o País acompanhado de apenas um assessor. A estreita ligação de Everaldo com o líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha (RJ), no entanto, pode ajudá-lo a conseguir recursos. Ele e o deputado do PMDB são sócios na empresa Folha Cristã. Quando o PSC ainda não tinha sala para abrigar sua liderança na Câmara, Cunha forneceu uma parte de seu gabinete para a sigla despachar. O peemedebista não teria motivos para se recusar a contribuir agora, segundo aliados. Na retaguarda política, Everaldo conta com o apoio do senador Magno Malta (PR-ES), que ficou contrariado com a adesão do seu partido, o PR, ao governo, depois que Dilma aceitou trocar o comando do Ministério dos Transportes.  “Vou percorrer o Brasil pela candidatura de Everaldo”, promete Magno.

Foto: Marcos de paula/Estadão Conteúdo