Diz o ditado que roupa suja se lava em casa. No entanto, o segundo maior sindicato do Estado de Minas Gerais, que reúne 250 mil trabalhadores do comércio de Belo Horizonte e região metropolitana, resolveu inovar. A confissão de uma suposta tentativa de suborno pelo presidente da entidade foi parar onde menos se esperava: na ata de reunião da diretoria. No dia 17 de julho de 2000, a direção do sindicato foi convocada às pressas para discutir o porquê da compra de uma caminhonete Chevrolet S10, no valor de R$ 23.600, paga pela entidade. Graças aos detalhes com que os diálogos do encontro foram reproduzidos na ata, a roupa suja sindical ficou guardada para a história.

Assinado por 13 diretores, o relatório vai direto ao ponto logo em suas dez primeiras linhas: “(…) O presidente licenciado (Vanderlei Fernandes) disse que a compra da caminhonete era para resolver a questão judicial de Contagem, que caminhava para decisão contrária ao sindicato, e foi doada a um juiz”. Segundo a ata, a reunião só ocorreu porque o diretor Alves Paixão, que teria registrado a caminhonete em seu nome, resolveu compartilhar sua história para não arcar sozinho com a responsabilidade da compra. “O diretor Alves pediu ajuda ao presidente em exercício (Carlos Alberto da Silva) para solucionar este problema porque ele achava que o Vanderlei estava promovendo sacanagem com ele”, diz o documento. Carlos Alberto confirma a versão da ata e acrescenta que, para desmentir a “doação” do automóvel, uma outra caminhonete foi comprada dois meses depois e apresentado um recibo antigo.

O clímax do relatório também surpreende: “O presidente Vanderlei falou que o juiz do Tribunal de Alçada aceitava uma caminhonete S10 e o vereador Teteco, de Contagem, pediu 5.000 camisas de malha para intermediar a negociação. Pediu licença para viajar e, quando voltou da licença, a caminhonete e as camisas já haviam sido compradas com o dinheiro do sindicato e entregue aos destinatários. O presidente Vanderlei tentou explicar, alegando que era para o bem do sindicato”. Procurado pela reportagem, o vereador Gil Antônio Diniz (PMDB), o Teteco, nega o envolvimento com o caso. Já o secretário-executivo do SEC, José Clovis Rodrigues, redator do documento, diz que nenhuma vírgula do que foi escrito é mentira. “A ata foi apreciada e assinada por 13 diretores. Se ela não deveria ter sido feita ou se tomou essa proporção, isso é um outro problema”, desabafa. Para o diretor Alves e o presidente Vanderlei, o fato de não terem assinado a ata prova que não estavam na reunião – apesar de ambos terem sido vistos por vários outros membros do sindicato e seu depoimentos, registrados. O presidente limitou-se a dizer que a divulgação do documento faz parte de um ato político de sindicatos rivais. No Tribunal de Alçada, a assessoria informa que há interesse em esclarecer os fatos, mas a falta do nome do suposto juiz impede a apuração.