16/05/2001 - 10:00
Neste mês, o Ministério da Saúde deverá receber uma solicitação para incluir seis exames médicos especiais, como biópsia do intestino delgado, no serviço público de saúde, para ajudar a identificar um mal tido como raro no País: a doença celíaca. A dificuldade de diagnóstico é um dos principais obstáculos para controlar a enfermidade. É por isso que a Associação dos Celíacos do Brasil (Acelbra) luta para conseguir atendimento especializado acessível e mostrar que o problema é mais comum do que se imagina. Estudo recente da Universidade de Brasília calcula que existam cerca de 300 mil brasileiros com a doença, uma alteração genética que causa intolerância ao glúten (proteína presente em alimentos produzidos a partir de trigo, aveia, cevada e centeio). Por conta disso, o funcionamento do organismo fica tão comprometido que até afeta o crescimento.
O nome da enfermidade pode parecer novidade para muita gente, mas a doença celíaca – do grego koiliakos (aqueles que sofrem do intestino) – é estudada desde o final do século XIX. Ainda assim, seus sintomas muitas vezes são confundidos com outros males, como verminose e subnutrição. Os sinais de alerta, principalmente em crianças, são emagrecimento, anemia, vômito, humor alterado, barriga distendida e bumbum achatado. Além disso, a doença pode causar baixa estatura, surgimento precoce de osteoporose (enfraquecimento ósseo), constipação intestinal e até linfomas (um tipo de tumor). E o mal é hereditário. “Cerca de 10% dos familiares de um celíaco têm o problema sem desenvolver os sintomas”, conta a gastropediatra Vera Sdepanian, coordenadora do Ambulatório de Doença Celíaca da Universidade Federal de São Paulo.
Em geral, a doença celíaca surge no primeiro ano de vida, época em que o bebê começa a consumir produtos com glúten, como pães e biscoitos. Ela também pode aparecer na adolescência e na fase adulta. Os médicos ainda não conseguem explicar por que a manifestação é tardia em alguns casos. O que se sabe é que a pessoa que tem predisposição à enfermidade produz anticorpos ao glúten assim que toma contato com o ingrediente. Os anticorpos agem no intestino delgado, atrofiando-o. Desse modo, o órgão perde a capacidade de absorver nutrientes, o que leva aos problemas decorrentes da doença.
Como não existe cura, o celíaco é obrigado a retirar definitivamente o glúten de sua dieta. Aí, surge mais um obstáculo. Uma lei federal de 1992 determina que os alimentos industrializados com glúten tenham estampados no rótulo a presença da proteína. Mas ela não é seguida com rigor. “Mandamos cartas para as companhias alimentícias tomarem consciência do problema”, afirma Nildes Andrade, 55 anos, vice-presidente da Acelbra. Como se não bastasse, há pouca oferta de produtos feitos para quem tem a doença. A alternativa é criar bolos e massas em casa com substitutos do glúten (fécula de batata e polvilho, entre outros). “Queremos ter uma cozinha experimental para ensinar pratos para os celíacos”, diz Nildes, que descobriu há seis anos que é celíaca. Enquanto isso não acontece, a entidade usa a internet para trocar receitas, como quiche de legumes com presunto. Os interessados podem procurar mais dicas pelo site www.acelbra.org.br.
Quiche de legumes com presunto |
Recheio: 2 colheres de margarina 1 cenoura ralada 1 cebola picada 1 abobrinha grande ralada 2 dentes de alho socados 2 cubos de caldo de legumes (sem glúten) 1 xícara de presunto em cubos 1/2 xícara de cheiro-verde sal, se necessário Massa: Cobertura: Preparo: |