O que você faria se o seu médico lhe receitasse, em vez de remédio, uma caminhada no parque? Parece estranho, mas pode não ser loucura. Pelo menos de acordo com um estudo que acaba de ser divulgado nos Estados Unidos. O trabalho, realizado pela Universidade de Emory, analisou os resultados de diversas pesquisas que investigaram as respostas do corpo diante de elementos da natureza ou em face da ausência de uma bela paisagem, por exemplo. A conclusão foi surpreendente. Constatou-se que quem tinha perto de si uma árvore ou mesmo mais acesso à luminosidade do sol era mais saudável do que aqueles que não dispunham desses prazeres.

Uma das pesquisas avaliadas foi feita com pacientes que se recuperavam de cirurgia na vesícula. Metade deles foi colocada em quartos com vista para uma árvore. Os demais foram alojados em quartos que ofereciam a visão de um muro. Os pacientes que podiam olhar para a árvore tomaram menos remédios e ficaram, em média, menos tempo internados. Outro trabalho que serviu de base para o estudo foi realizado com presidiários. Ele revelou que quem tinha janela na cela requisitava menos atendimento médico.

O coordenador da pesquisa, Howard Frumkin, especialista em saúde pública, afirmou a ISTOÉ que ainda não se tem pleno conhecimento sobre o mecanismo orgânico que explicaria os benefícios. “Não temos essa resposta. Como muitas coisas na medicina, sabemos que algo existe, mas sem entender exatamente o porquê”, declarou. Na verdade, os resultados comprovam uma certeza praticamente intuitiva: a de que estar perto da natureza ou pelo menos em um ambiente agradável faz bem. “Passar férias em um lugar bonito faz com que nos sintamos bem. Daí para que essa sensação influencie positivamente na saúde é um passo”, disse.

Menos stress – Na opinião de Luiz Eugênio Mello, professor de fisiologia da Universidade Federal de São Paulo, os benefícios obtidos com a exposição à natureza são resultado da diminuição do stress, um efeito provocado pelo contato com o verde. Afinal, é difícil manter-se nervoso, a ponto de explodir de irritação, num belíssimo parque, numa praia tranquila ou até mesmo dentro de uma casa bonita e arejada. E, como se sabe, em níveis acima do normal, o stress só traz prejuízos ao organismo, como minar suas defesas, deixando o corpo mais vulnerável aos ataques de inimigos como vírus e bactérias. Os cientistas americanos levantam outra hipótese para justificar o resultado do estudo: com a civilização, o homem se distanciou do seu hábitat natural e, por isso, o retorno a esse ambiente faria bem, como uma espécie de volta às raízes. Independentemente das razões, o fato é que a pesquisa também comprova a forte tendência de incluir no conceito de saúde a qualidade de vida. “O contato com a natureza está diretamente ligado a isso”, analisa o ginecologista Luís Fernando Aguiar, de São Paulo.

É preciso entender, no entanto, que somente olhar para a natureza não é suficiente. “É necessário que as pessoas se relacionem com o ambiente para que ele tenha algum efeito positivo sobre o stress e a saúde”, afirma a psicóloga Daniela Selingard, de São Paulo, especializada no tratamento contra o stress. É baseada nessa teoria que trata seus pacientes. Em parques e praças, eles andam, fazem alongamento ou simplesmente se sentam na grama para conversar. Uma de suas pacientes, a hoteleira Miriam Vasserman, 42 anos, acha que os benefícios da terapia no parque se devem principalmente à ruptura com a rotina. “Um ambiente natural é propício para nos desligarmos”, diz. Para Gabriel Moser, professor de psicologia ambiental na Universidade René Descartes, em Paris, porém, não é certo dizer que a natureza por si só faça bem à saúde. “Em situações extremas, como as exemplificadas no estudo, a presença da natureza é com certeza benéfica, mas não podemos generalizar”, afirma. De qualquer forma, é muito melhor estar perto de uma bela paisagem do que exposto a um ambiente feio e confuso. Os olhos e o corpo agradecem.