Professores de todo o País afirmam ter feito denúncias ao MEC e a secretarias estaduais e municipais de educação sobre faculdades que oferecem cursos fantasmas. A maioria dos casos envolve complementação de licenciatura em letras, matemática, física e biologia, além de habilitação pedagógica (para se tornar diretor de escola) e pós-graduação. Professores sérios são prejudicados por aproveitadores que compram o diploma, como mostrou a reportagem Sacoleiros do ensino, publicada na edição de 18 de abril de ISTOÉ. Depois, conseguem aulas no lugar de quem se prepara corretamente. Isso ocorre porque as pessoas que fazem a complementação sem estudar normalmente têm mais tempo para continuar lecionando. Assim, conseguem mais pontos de classificação e um número maior de aulas.

Na região de Campinas (SP), professores de matemática reclamam a perda de aulas para colegas da área de biologia com licenciatura plena sem cumprimento de carga horária, na Universidade Iguaçu (Unig), em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Os graduados em biologia podem dar aulas de disciplinas como física e matemática, desde que façam um curso complementar. O problema é que esses diplomas são conquistados com apenas 13 viagens à Unig, durante um ano. Nas cidades mineiras de Teófilo Otoni, Ipatinga e Conselheiro Lafaiete, ocorre o contrário. Ali, são os professores de matemática que assumem aulas de biologia sem nenhum preparo, graças aos “cursos” da Unig. “Eles não são capazes de identificar uma ameba”, critica uma professora de Teófilo Otoni que preferiu não se identificar.

Abastecido por denúncias de professores mineiros, o MEC instaurou um processo contra as Faculdades Integradas Simonsen, do Rio de Janeiro. Os documentos estão no Conselho Nacional de Educação, nas mãos do conselheiro Efrem Maranhão. Os problemas levaram a Câmara de Educação Superior a determinar o cancelamento das matrículas no curso de teologia e dos diplomas dos formados com licenciatura curta e plena na Simonsen. A emissão de certificados foi suspensa. Uma comissão está encarregada de analisar o reconhecimento dos cursos. O vice-diretor da faculdade, Airton Silva, disse que deixou de oferecer cursos “sem amparo legal” e garantiu que o MEC “avaliou bem a instituição”.

Caso de polícia – Em São Paulo, as Faculdades Integradas de Filosofia, Teologia, Ciências Humanas e Sociais (Faifitechs) foi impedida de oferecer cursos superiores. “É simplesmente um caso de polícia”, disse o ministro da Educação, Paulo Renato Souza. A faculdade, não reconhecida, tem sede em Valparaíso (GO). Em São Paulo, além de utilizar o registro oficial, funciona também como Instituto Brasileiro de Metodologia Especializada (IBME). A agência Dine-Tur Passeios Pedagógicos, de um professor identificado como Walter Alves Pereira, divulga cursos de graduação da IBME com mala direta enviada a colégios paulistas. Na ficha de inscrição, consta o nome da Faifitechs. Gravações obtidas por ISTOÉ mostraram que a faculdade, instalada numa casa no Parque São Lucas, periferia de São Paulo, oferece cursos superiores com a exigência de uma única presença ao mês. O grupo está construindo um prédio de dois andares no Tatuapé, zona leste paulistana.

Na casa no Parque São Lucas, mora Bilian Dias, que se identificou como professor da faculdade. “A única coisa que fazemos aqui é a matrícula dos alunos”, esquivou-se Dias. “Temos doutores e mestres reconhecidos”, garantiu, sem conseguir lembrar o nome de nenhum deles. “A revista foi injusta ao nos envolver. Não sou sacoleira do ensino”, reclamou a diretora Maria Aparecida Vianna. Ela diz não conhecer Janete da Silva e Suzana Sofiati, organizadoras das caravanas, mas uma funcionária chamada Melissa perguntou se a reportagem esteve na casa de Suzana Sofiati, em Limeira (SP). A “lembrança” de Melissa sugere a possível existência de uma rede organizada. O certo é que essas faculdades têm muita coisa a explicar. Desta vez, fora das salas de aula.

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