Quando os ingleses descobriram a tumba do faraó Tutankhamon no Egito, em 1922, criaram o primeiro evento arqueológico globalizado, propagado pelo rádio, principal meio de comunicação da época. Foi o que bastou para que o mundo fosse tomado pela primeira grande onda de egiptomania, assunto antes restrito a uma elite européia com pendores aventureiros. Hollywood, é claro, embarcou no filão e, dez anos depois, o sinistro Boris Karloff, coberto de ataduras dos pés à cabeça, estrelou o até hoje cultuado A múmia. Em 1999, esse filme inspirou outro, com o mesmo nome, mas com uma folia de efeitos especiais. Rendeu US$ 414 milhões, gerando uma continuação que promete seguir sua trilha de lucros cintilantes. O retorno da múmia (The mummy returns, Estados Unidos, 2001), que entrará em cartaz nacional em 250 salas de cinema, na sexta-feira 18, faturou no seu primeiro final de semana de estréia nos EUA US$ 70 milhões, quase um recorde. A fórmula é idêntica à do original. Mantém o espectador em permanente sobressalto, tamanha a ação que jorra da tela. Embora a história seja às vezes confusa – e bobinha –, ela oferece o que mais desejam os aficionados por produções movimentadas e barulhentas. Diversão garantida, sem precisar pensar.

Guerreiros – O orçamento de US$ 100 milhões permitiu esbanjar nos truques digitais. E foi através do computador que se criou o melhor do filme: seus vilões bem superiores, em número e em maldades, aos da sequência anterior. Destaque para a horda de múmias pigméias, vorazes e histéricas, e para o grotesco Escorpião Rei, criatura metade homem, metade escorpionídeo, que em sua versão humana é vivida pelo astro de luta livre americano The Rock. Sem contar o exército de guerreiros anúbis, formado por homens com cabeças de fera. Sobre todos os seres malignos, porém, reina o sumo-sarcedote Imhotep (Arnold Vosloo), que, como no episódio anterior, é ressuscitado na forma mumificada, mas aos poucos vai recuperando seus contornos humanos. Pratica maldades com e sem ataduras.

Para enfrentar tanta vilanice, o diretor Stephen Sommers – que assina os dois episódios – recrutou os heróis de sempre. O aventureiro Rick O’Connell (Brendan Fraser), sua mulher Evelyn (Rachel Weiz) – que surpreende por seus dotes em lutas marciais –, além do misterioso e sempre alerta Ardeth Bay (Oded Fehr Stephen). A diferença é que o casal O’Connell agora tem um filho, o prodígio de oito anos Alex (Freddie Boath). A ação se concentra nos punhos de Fraser, que, se ainda não tem o mesmo charme de Harrison Ford dos tempos de Indiana Jones, não decepciona. Principalmente na ironia com que encara as situações adversas.

Se o elenco não desanda, o que encanta em O retorno da múmia é sua fórmula, tão óbvia quanto eficiente. É simples. Lapida, com o que de melhor a tecnologia pode oferecer, as descompromissadas histórias dos antigos seriados dos anos 30 e 40, não por acaso época em que o filme é ambientado. Para um adulto, o filme transmite uma agradável sensação de nostalgia. E, para o espectador se aliviar de tanta correria, há momentos de humor – concentrados na aparição do aparvalhado Jonathan (John Hannah) e nas sequências românticas. O lendário sarcedote Imhotep volta ao mundo dos vivos para recuperar o amor da nobre egípcia Anck-Su-Namun (Patricia Velasquez), pivô de sua morte. É quando desponta a atriz venezuelana Patricia, sempre em trajes insinuantes que realçam suas belas curvas, capazes de fazer qualquer múmia se levantar do sarcófago.

O retorno da múmia talvez seja o mais barulhento produto de uma onda de egiptomania que atinge o Brasil. A exposição A arte no Egito no tempo dos faraós, que acontece no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), em São Paulo, é um sucesso. No último final de semana, teve um público de 6.360 pessoas. O Museu de Arte de São Paulo (Masp) prepara uma exposição grandiosa sobre o tema, e o Rio de Janeiro deverá abrigar evento semelhante. A egiptomania, ainda que tardiamente, chegou ao Brasil.