Pródigo em acolher celebridades simultaneamente cultuadas e esquecidas, o Brasil coleciona figuras que vivem em condições absurdamente inferiores ao espaço que ocupam nos cadernos culturais. Aos nomes do guitarrista Lanny Gordin, parceiro habitual dos tropicalistas, e do ex-Mutante Arnaldo Baptista, junta-se o paulistano José Agrippino de Paula, dramaturgo (O rito do amor selvagem), escritor (Lugar público) e cineasta (Hitler do 3º mundo) citado por dez entre dez artistas de vanguarda que se prezem. Morando com humildade no Embu, a poucos quilômetros da capital paulista, sua fama é alicerçada em Pan América (Editora Papagaio, 264 págs. R$ 25), cuja terceira edição traz prefácio de Caetano Veloso, que se referia ao livro na música Sampa através do verso “Pan América de Áfricas utópicas”.

Lançado em 1967, o texto reúne uma miríade de personagens – de Marilyn Monroe a Che Guevara, de Karl Marx a Harpo Marx – que vivem uma tresloucada e anárquica aventura cujo desfecho é a destruição do mundo. Na época, o físico Mario Schenberg classificou Agrippino de Paula como uma das personalidades mais poderosas e significativas da nova geração, ao lado do músico Jorge Mautner e do artista plástico José Roberto Aguilar. Arquiteto de formação, Agrippino de Paula foi, segundo Lucila Meireles, curadora de sua obra, “um artista multimídia antes desse conceito ser inventado”. A nova edição foi lançada semana passada no Embu. Para a celebração, Agrippino pediu aguardente Pitú, amendoim e música suave. Ray Conniff, de preferência.