Mesmo perto dos 85 anos, é difícil imaginá-lo pendurando as chuteiras. Testemunha ocular da história recente do Brasil e de tantas Copas do Mundo, o senador Pedro Simon começa esta conversa lamentando o pior fracasso do Brasil na história do futebol: “Vivemos uma tragédia ao vivo, em campo. Não temos no esporte nada parecido. Nunca vi. Se fosse 3 a zero… Mas 7 a 1? Fiquei tonto. Perguntava: É replay? Estão repetindo o gol?” Apesar da decisão de não sair candidato, o político gaúcho do PMDB não quer tirar seu time de campo. No dia do seu aniversário, em 31 de janeiro de 2015, ele deixa o Senado após 32 anos de casa impondo-se duas novas missões: percorrer o Brasil, talvez como um novo menestrel, e escrever seu livro de memórias:

A autobiografia
“Quero começar o livro com a experiência de ter ido ao enterro de Getúlio (Vargas)em São Borja, em 1954, aos 24 anos. Estava com os pais de uns amigos. Vi seu corpo chegar, depois da notícia do suicídio. Os discursos de Oswaldo Aranha, de João Goulart e de Tancredo Neves me emocionaram. Vou recapitular os grandes fatos da história do Brasil que vivi: o golpe, do AI 1 ao AI 5, a tortura, a anistia e a redemocratização. Tenho que organizar a montanha de entrevistas e os discursos que fiz no Parlamento e gravar minhas lembranças.”

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Como Teotônio Villela…
“Tentarei executar um velho plano que tenho de percorrer o Brasil, dando palestras, coisa que não dava tempo no Senado. Quero criar um movimento em que outras pessoas se engajem. No passado, viajei pelo País com o doutor Ulysses (Guimarães) e também com Teotônio Villela. Teotônio, de cadeira de rodas, com quatro cânceres, muletas, se apoiava nas paredes e nos corrimãos, mas falava com uma força descomunal. Ele dizia: ‘Me nego a morrer’. Era emocionante". Um movimento contra o “é dando que se recebe”. “A minha forma de colaborar é mobilizar o Brasil com um grande debate para acabar com o ‘é dando que se recebe’. Essa política de cargos em troca de apoio. Dilma até tentou fazer isso no começo, mas depois entregou os pontos. Se não fizermos isso, vai ser o caos. Gostaria de começar a falar na Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. Lá há aquele ambiente acalorado, ambivalente e histórico.”