11/07/2014 - 20:50
O malandro está de volta, com seu icônico chapéu-panamá, o mesmo terno de linho branco que os sambistas e boêmios usavam no passado e os impecáveis sapatos bicolor. Essas são algumas das marcas do espetáculo “Ópera do Malandro”, um clássico de Chico Buarque montado em 1978, mantidas na remontagem que tem pré-estreia de luxo no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, nos dias 17 e 18, e entra em cartaz no mês que vem, no Teatro Net Rio. Há novidades no revival. Por exemplo, só homens formam o elenco principal. Os papéis que foram de Marieta Severo (Teresinha) e de Elba Ramalho (Lúcia) são, agora, defendidos por Fábio Enriquez e Léo Bahia, respectivamente. A peça, que faz parte das comemorações dos 70 anos de Chico Buarque, contará também com outras músicas dele, e não somente as da primeira versão.
MUDANÇA
No musical, os papéis femininos, como Lúcia e Teresinha de Jesus,
são interpretados por homens
O diretor João Falcão explica que resolveu adicionar algumas canções do compositor concebidas depois da “Ópera” porque elas completam o sentido da peça, como músicas do álbum “Malandro” (1985) e outras escritas especialmente para o filme homônimo de Ruy Guerra, também de 1985. “Chico nos deu muita liberdade para trabalhar”, conta o diretor.
“As canções da ‘Ópera’ chegaram ao público mais por conta das releituras que foram feitas por outros artistas do que pela peça. Encená-la é dar uma chance de colocá-las de novo dentro do contexto”, acredita Rubens Lima Jr., diretor teatral e professor de interpretação da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio). Ele se refere a clássicos deste musical, como “Folhetim”, “Teresinha”, “Geni e o Zepelim”, entre outras.
DO MAL
Ricca Barros faz Duran, dono de bordéis
e desafeto do malandro Max Overseas
Marco na dramaturgia nacional, a “Ópera do Malandro” é baseada em duas obras: a “Ópera do Mendigo” (1728), do inglês John Gay (1685-1732), e a “Ópera dos Três Vinténs” (1928), dos alemães Bertolt Brecht (1898-1956) e Kurt Weill (1900-1950). “É uma peça que ainda tem muito o que dizer e ensinar para o público”, pontua Lima Jr. “Não fizemos nenhuma atualização radical no texto porque ele, em si, trata de temas que ainda são muito atuais”, acrescenta Falcão. Uma, porém, chamará a atenção: no segundo ato, há uma manifestação que vai crescendo e envolvendo todos os segmentos da sociedade, em clara alusão aos movimentos de rua ocorridos em junho do ano passado. “Não é preciso atualizar o texto, vamos apenas tornar a encenação mais contemporânea”, conta o diretor, que planeja levar o clássico de Chico Buarque para outras cidades.
A história do contrabandista malandro e romântico protagonizada por Max Overseas (Moyseis Marques) se passa na década de 1940, na Lapa, bairro carioca que era um reduto de bordéis, agiotas, policiais corruptos, empresários inescrupulosos, entre outros tipos transgressores. O malandro se apaixona por Teresinha de Jesus, filha de Duran (Ricca Barros), poderoso dono de bordéis e desafeto do anti-herói. “Estou gostando tanto de atuar e desse personagem que já estão me chamando de Moyseis Max”, brinca o cantor, que estreia como ator. O espetáculo é um desfile de insinuantes prostitutas, um travesti (a Geni, interpretada por Eduardo Rios) e mulheres fortes, como Teresinha e Lúcia, responsáveis por um ponto alto do espetáculo, o dueto na canção “O Meu Amor”. “Queremos fazer mulheres com personalidade e estamos trabalhando para que a nossa briga não fique caricata no palco”, diz Bahia. “Estou vivendo um desafio duplo: cantar Chico Buarque como se fosse uma mulher”, afirma Enriquez. Curiosamente, a única atriz em cena, Larissa Luz, interpreta um homem, o João Alegre, narrador do musical.