Considerado o pai dos road-movies, influenciando gerações de cineastas, de Francis Ford Coppola a Quentin Tarantino, o filme Sem destino tinha tudo para não dar certo. Ao custo de US$ 300 mil, surgira de uma idéia de Peter Fonda, irmão de Jane e filho do carismático Henry. Peter estava no Canadá para divulgar uma outra fita da qual havia participado. Entre tragadas num cigarro de maconha, olhou para o cartaz do filme e se viu ao lado do ator Bruce Dern, ambos montados em motocicletas, como cowboys modernos correndo livres pelas estradas americanas. Imediatamente telefonou para Dennis Hopper – famoso pária hollywoodiano, com passado de menino prodígio – e o convidou para participar do projeto. Hopper se tornaria o diretor, levando o elenco e os produtores à loucura com suas exigências. Histórias como estas fazem a delícia de Sem destino (Rocco, 104 págs., R$ 18), livreto escrito pelo jornalista e crítico de cinema Lee Hill.
Entre outras revelações, o autor aponta que na verdade foi o co-roteirista Terry Southern a verdadeira força por trás de Sem destino. É dele a idéia da sequência da “viagem” de LSD no cemitério assim como o personagem do advogado sulista, George Hanson, papel de Jack Nicholson que lhe rendeu o Oscar de ator-coadjuvante, único prêmio concedido ao filme e que alavancou sua carreira. Nas contas de Hill, Nicholson, até então apenas um esforçado roteirista, foi o único a sair lucrando com a aventura psicodélica bolada por Hopper e Fonda. Os US$ 60 milhões de bilheteria arrecadados – um absurdo para época, final dos anos 60 – foram gastos pela dupla num piscar de olhos.