Um psicopata com uma causa nobre – a preservação de prédios históricos – e uma enfermeira psiquiátrica de passado trágico são os protagonistas do thriller A arte de quebrar vidro (Bertrand Brasil, 392 págs., R$ 45), romance de estréia do americano Matthew Hall. O livro teve uma boa mídia nos Estados Unidos, com uma surpreendente primeira edição de 200 mil exemplares, e foi comparado exaustivamente à trama de O silêncio dos inocentes. Mas a verdade é que o autor não traz rigorosamente nenhuma novidade ao gênero.

Hall reciclou os clichês habituais, com alguma habilidade nos diálogos bem adaptados pela tradução e no delineamento psicológico dos personagens. O que não muda o fato de se tratar de entretenimento puro e descartável. Na sua história, Bill Kaiser é o gênio esquizofrênico da informática que consegue escapar de um hospital de segurança máxima, em Nova York, graças à ajuda involuntária da enfermeira Sharon Blautner, fascinada por sua simpatia e inteligência – tanto que acaba lhe revelando um segredo comprometedor de seu passado.
O autor se esforça para seguir direitinho o manual, criando aqui e ali alguns momentos de suspense. Mas está longe das fontes em que evidentemente bebeu – os tough writers americanos do porte de Dashiel Hammett e Raymond Chandler, que revolucionaram o gênero, mas de quem Hall não assimilou a ironia nem a força da linguagem. Ainda assim o livro tem seus méritos, mais cinematográficos, por assim dizer, do que propriamente literários. Daria – e possivelmente dará – um bom roteiro para mais uma superprodução hollywoodiana.