Um homem (Wagner Moura) salta de asa-delta no Rio de Janeiro e, ao sobrevoar a estátua do Cristo Redentor, começa a questionar a participação do filho de Deus nas desgraças que se abatem sobe ele e a humanidade. Xinga e faz cobranças, dizendo que ele deveria ver com os próprios olhos como o mundo está perdido. Depois faz o gesto de dar uma banana. Quem teve acesso aos bastidores do filme “Rio, Eu Te Amo” – um dos dez segmentos que compõem o terceiro filme da franquia que lançou “Paris, Eu Te Amo” (2006) e “Nova York, Eu Te Amo” (2008) – diz que essa é a cena que a Arquidiocese do Rio de Janeiro proibiu. O veto abriu a polêmica sobre os limites dos direitos de imagem do famoso ponto turístico carioca. A cena faria parte da sequência “Inútil Paisagem”, dirigida por José Padilha que, por isso, deixou de integrar o longa previsto para estrear em setembro.

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SÍMBOLO
Dom Orani, da arquidiocese: fé ofendida

Dona dos direitos patrimoniais do monumento, a arquidiocese considerou “atentatória contra a fé católica” e a caracterizou como “vilipêndio”, crime no qual se encaixa o menosprezo religioso. “Se fosse só a imagem do Cristo como cenário, tudo bem. Mas ele fala, claramente, com alguém. O diálogo gera uma ofensa ao sentimento religioso”, justifica o padre Jesús Hortal, ex-reitor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio. Do outro lado, Fábio Cesnik, da Comissão de Direito Autoral da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), afirma que há uma confusão nesse debate. “Não há problema de direito autoral”, diz. “A arquidiocese atua como censora ao impedir a difusão do filme.” Até o prefeito da cidade, Eduardo Paes, saiu em defesa do cineasta. “O Cristo é patrimônio da arquidiocese, mas é um ícone do Brasil e do Rio. Tudo tem limite”, disse.

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FICOU DE FORA
Padilha teve seu filmete, “Inútil Paisagem”, retirado do longa
“Rio, Eu Te Amo” por causa da proibição

A diretora jurídica da arquidiocese, Claudine Milione, afirma que a entidade recebeu um pedido de liberação de outros segmentos de “Rio, Eu Te Amo” e que a imagem do Cristo aparece inclusive no cartaz do filme. “Seria negligência nossa permitir, pois não dá para achar que o personagem está apenas fazendo um desabafo com o Redentor. Ele é um símbolo religioso e sempre será”, argumenta. Ao jornal “O Globo”, Wagner Moura e José Padilha garantiram: “Se fôssemos produtores, não aceitaríamos essa censura passivamente. Entraríamos na Justiça”. 

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Fotos: Daniel Marenco, Leonardo Soares – Folhapress