A luz de Darwin

DARWIN Considerado louco por ter dito que a Bíblia está errada”

Uma simples lupa era praticamente o único instrumento utilizado por um homem sonhador que acreditava que as grandes verdades do mundo estavam escondidas na natureza – mais precisamente nas células e nos galhos. Esse sonhador chama-se Charles Darwin (1809-1882), o naturalista inglês que enfrentou a autoridade paterna para abandonar a faculdade de medicina e viver observando o comportamento de animais e o crescimento de plantas. Pensaram que ele era um romântico. Mas em 1859 a coisa piorou e tacharam-no de louco quando colocou a comunidade científica em polvorosa. “A Bíblia está errada, não foi Deus quem criou o homem. O homem evoluiu do macaco”, escreveu Darwin em sua clássica obra A origem das espécies.

O tempo passou e ele acabou reverenciado como o naturalista que revolucionou definitivamente o mundo científico na compreensão da existência de vida no planeta. Para comemorar os 150 anos desse livro, o Museu de História Natural de Nova York organizou uma exuberante exposição que retrata a vida e a obra de Darwin. A mostra agora desembarca no Brasil (Museu de Arte de São Paulo) reunindo manuscritos, desenhos, imagens e peças utilizadas em cada descoberta – inclusive
a sua célebre e inseparável lupa.

Dárcio de JesusA luz de Darwin
No bloco do cientista,
detalhes de cada observação
A lupa da qual Darwin nunca se separava e sua pasta de trabalho são as grandes atrações da exposição

“Estamos diante de um divisor de águas dentro da ciência. Darwin mudou a forma de as pessoas pensarem”, disse a ISTOÉ Ben Sangari, físico inglês responsável pela exposição que nos EUA foi visitada por aproximadamente 500 mil pessoas. Mais: ela cresceu em repercussão porque reabriu a polêmica sobre o ensino nas escolas americanas onde tem força o chamado criacionismo – a noção de que os seres vivos foram criados por Deus, tal qual os conhecemos hoje. “É errado as escolas ensinarem ciência à luz da Bíblia. É preciso separar uma da outra. As crianças precisam aprender sobre a Bíblia,,mas necessitam também aprender sobre a evolução das espécies”, diz Sangari. Polêmicas à parte, os alunos americanos saíram do museu com informações didáticas sobre os estudos que revelaram a verdade sobre a fauna e a flora, incluída aí as brasileiras. Para que isso também aconteça aqui, fez-se uma parceria com escolas da rede pública para que 100 mil estudantes possam visitar gratuitamente a mostra. Os visitantes poderão acompanhar a incrível linha de raciocínio de Darwin, com manuscritos que registram, por exemplo, como o cientista descobriu fósseis de animais extintos na América do Sul como o megaterium e o gliptodonte – que evoluíram para o bicho preguiça e o tatu. Com investimento de US$ 3 milhões, o Instituto Sangari reuniu 400 itens referentes aos cinco anos de viagem de Darwin pela América do Sul a bordo de seu Beagle. Para armazenar essas preciosidades históricas o Masp preparou recipientes climatizados que controlam a umidade e garantem que papéis e objetos datados de 1840 não sejam danificados.