Asim como já acontece há algum tempo com a indústria de computadores, a de equipamentos de telefonia móvel passou a cultuar a obsolescência. Daqui para frente, quem gosta de ter na cintura um telefone celular avançado vai se sentir estimulado a trocar de aparelho pelo menos a cada 18 meses, no máximo dois anos. Bastará comprar um aparelho para, em pouco tempo, surgir uma nova leva de serviços e facilidades que, é claro, não funcionam nos celulares antigos. A aproximação da informática com a telefonia móvel surtirá efeitos a partir deste ano, mas a maior parte das novidades deve desembarcar no Brasil só em 2001.

Hoje estão no ar os serviços de telefonia celular das chamadas bandas A e B. O cronograma de evolução dos celulares seguirá pelo menos três estágios. A primeira etapa será a autorização e padronização de uso da frequência de ondas eletromagnéticas para a chamada banda C da telefonia móvel. No mercado brasileiro, os fabricantes de terminais telefônicos estão em compasso de espera. Aguardam até o final do mês, quando a Anatel promete anunciar qual faixa de frequência será usada para transmissão de voz e textos pela linha telefônica. A pendenga está na escolha entre o padrão técnico GSM, predominante na Europa e na Ásia, que usa uma faixa de 1,8 gigahertz, ou o espectro de frequência americano, empregado atualmente nas redes digitais dos Estados Unidos, Canadá e Argentina, que preferem a faixa de 1,9 gigahertz.

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Chatboard da Ericsson facilita a troca de e-mail pelo celular

Depois da banda C, o segundo estágio da telefonia móvel serão os aparelhos equipados com um mininavegador de Internet, o Wap, sigla em inglês para padrão de aplicações sem fio. A partir do próximo mês, os fabricantes Motorola, Siemens, Nokia e Ericsson prometem lançar seus primeiros modelos adeptos do browser (navegador) Wap no Brasil. Nesses telefones será possível consultar os horários das sessões de cinema, o trânsito, as condições do tempo, além de enviar e receber e-mails usando a tela do celular. Nessa fase, as operações de navegação na Web ainda estarão restritas à troca de textos. Somente no terceiro estágio da telefonia, a chamada terceira geração, ou 3G, é que finalmente será possível usar as linhas de transmissão sem fio para enviar gráficos, vídeos e mensagens sonoras.
“A banda C é apenas mais uma operadora de telefonia móvel, que terá capacidade para transmitir voz e também pequenas mensagens de texto”, explica Yuri Sanches, gerente-geral da Siemens, cuja subsidiária no Brasil defende o padrão europeu. As grandes atrações do celular chegam mesmo depois da banda C. “Em junho de 2001 estréia no Japão a chamada terceira geração da telefonia celular, que é basicamente a transmissão de dados e conteúdo multimídia num canal de alta velocidade de transmissão”, diz Domingos Iorio, diretor de sistemas móveis da Ericsson, que encabeça, junto da Lucent, a luta pela adoção do padrão americano de telefonia móvel. A terceira geração de telefonia celular no Brasil só deve entrar em cena no final do próximo ano.

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Siemens S25 segue o padrão europeu e funciona com navegador para a Internet, o Wap

Apesar das disputas, tanto Ericsson quanto Siemens devem lucrar com a chegada das novas gerações de telefones celulares, cada vez com mais recursos e serviços a se cobrar do consumidor. Na realidade, o celular deve incorporar parte das funções das antigas agendas eletrônicas e dos computadores que cabem na palma da mão, entre elas a lista de compromissos. Fabricantes de aparelhos como a finlandesa Nokia, a sueca Ericsson e a alemã Siemens deram asas à imaginação para criar os futuros modelos de celular. Há desde modelos que tocam músicas gravadas na linguagem digital MP3, que pode ser ouvida pela Internet, até aparelhos celulares com localizador por satélite, o GPS. Ou então celulares com microcâmera de vídeo e tela sensível ao toque, para facilitar a navegação na Internet.

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R380 da Ericsson une o celular ao assistente pessoal
TS8 usa a tecnologia Bluetiith, que libera as mãos



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Siemens de terceira geração, que fará transmissão de voz, dados, som e imagem
Nokia 7160 chega ao País até o final do ano e apto para navegar na Web, receber e-mail e notícias

 


Os eua não gostaram

Quanto à escolha dos padrões de telefonia da banda C, a polêmica ganhou mais tempero depois que a revista americana Time revelou que, apesar de os EUA usarem a comunicação sem fio desde a Segunda Guerra Mundial (com os walkie-talkies), sua telefonia móvel está mais atrasada do que a européia e a asiática. “A principal razão do nosso atraso é que no início de 1990 a Europa e a Ásia adotaram um padrão digital comum chamado Global System for Mobile Communications (GSM) que permite aos usuários falar a partir de 120 países, da Suécia a Cingapura. Os Estados Unidos, em contraste, tiveram vários padrões concorrentes, atrasando a adoção da tecnologia sem fio e adicionando custos”, registrou a revista.

Num esforço para identificar a melhor alternativa para seus investidores internacionais, o banco Indosuez promoveu um debate técnico sobre a escolha da frequência para a transmissão dos serviços de telefonia da banda C no Brasil. De um lado, a canadense Lucent, defensora da frequência de 1,9 gigahertz. De outro, a alemã Siemens, advogada do 1,8 gigahertz, ou GSM. A conclusão do banco foi técnica: “Entendemos que o País e os consumidores vão se beneficiar mais com a adoção da solução de 1,8 gigahertz”, explica o engenheiro Ciro Matuo, analista do banco, que é ligado ao Credit Agricole Indosuez. “Os EUA não querem que usemos a faixa de 1,8 gigahertz porque lá esse espectro da frequência está reservado às comunicações militares”, explica Yuri Sanches. Ele ainda explica que a faixa de 1,9 gigahertz foi eleita como a frequência prioritária para a transmissão de conteúdo multimídia para a terceira geração de celulares. Em jogo, a indústria da banda C disputa um mercado potencial avaliado entre US$ 5 bilhões e US$ 15 bilhões. Verdadeira briga de titãs.