Um poderoso estimulante da libido – em especial, a masculina – está de volta. A partir do sábado 12, os antológicos catecismos de Carlos Zéfiro serão relançados, com periodicidade quinzenal, ao custo de R$ 12. A primeira revistinha será O viúvo alegre. Todas manterão o formato original: de papel ofício, 32 páginas, impressão em preto-e-branco. E terão, claro, muita sacanagem – com a licença dos leitores, não se pode ser fiel a Carlos Zéfiro usando palavras dissimuladas. A iniciativa inaugura a editora A Cena Muda, mesmo nome da banca carioca de revistas antigas, de Adda Di Guimarães. “Decidi reeditar porque fiquei impressionada com a rapidez com que se esgotaram os 500 catecismos que consegui garimpar”, conta Adda. Ela negociou com os filhos do desenhista o direito de republicar os 862 títulos da obra. O problema é que ninguém tem a coleção completa. “Estou correndo atrás de novo, mas já tenho um bom acervo”, diz.

Alcides Aguiar Caminha (1921-1992) era o nome do carioca que se escondia sob o pseudônimo de Zéfiro para publicar as revistinhas que fizeram a alegria dos adolescentes das décadas de 1950 e 1960. Somente um ano antes de sua morte é que foi revelada sua verdadeira identidade. Numa entrevista, ele disse que se escondia devido à Lei Federal nº 7.967, já extinta, que regia o funcionalismo público. “Eu perderia o emprego se me envolvesse em escândalos. Fazia este trabalho clandestinamente”, disse ele. O pacato funcionário do Departamento Nacional de Imigração, no Ministério do Trabalho, era também o autor das picantes histórias
em quadrinhos com close em atos sexuais. “Na obra dele podia tudo: irmão com irmã, padre com beata, homossexuais. Acho que o que mais atrai é a simplicidade e a falta de preconceito. Era transgressor
na época e continua sendo”, diz Adda.

Para o chargista Chico Caruso, 55 anos, “os desenhos eram eficientes, pois passavam erotismo com poucos recursos”. Chico lia as edições emprestadas por colegas de rua, em São Paulo. “Fazia a gente até perder a respiração. Era emocionante.” O desenhista Miguel Paiva, 55 anos, chegou a escrever um
argumento de filme baseado em Zéfiro, que entregou ao cineasta Sílvio Tendler. “Fui um grande consumidor. Essas revistinhas tinham enorme rotatividade entre os garotos. A gente se masturbava com Zéfiro e fotonovelas italianas”, relembra ele. Mas por que eram chamadas de catecismo? Em entrevista dada no ano de sua morte, Caminha disse: “Nasceu em São Paulo, mas até hoje eu não sei por que os paulistas deram esse nome.”