Ninguém jamais voltou do Paraíso para contar como ele é. Não se sabe se a paisagem é composta de verdes colinas, cortadas por riachos caudalosos, ou se o cenário apresenta falésias e praias de areia fina, banhadas por ondas bravias. Apesar disso, nada impede que turistas passeiem encantados pela Ilha de Capri, no Sul da Itália, e repitam convictos: “É o Paraíso!” Até o desenhista francês Gustave Doré se inspirou nela para compor as ilustrações paradisíacas da Divina comédia, a clássica obra de Dante Alighieri. Enquanto o verão europeu se aproxima, aumenta a debandada para Capri, magnífica porção rochosa cercada pelo Mar Mediterrâneo por todos os lados. Desde que o velho imperador romano Tibério Graco transferiu para a ilha a sede oficial de seu império no ano 37 da era cristã, Capri teve de se acostumar à recepção de milhares de turistas a cada ano. Entre um desfile e outro, é para lá que a modelo Naomi Campbell leva seu namorado italiano Flavio Briatore e onde o diretor de cinema Roberto Benigni descansa das gravações.

Ao desembarcar na ilha, vindo de Nápoles, o turista é apresentado a Marina Grande, o porto oficial da península. As cores fortes de suas construções unem-se aos infinitos tons do oceano para compor o cenário típico de um filme de Fellini dos anos 60. Com quase 10 quilômetros quadrados, Capri abriga uma invejável diversidade ecológica e cerca de 12 mil habitantes. Nas mágicas ruelas da ilha, é proibido – e impraticável – circular de carro. Ali, pode-se tomar um “funiculare”, espécie de trem vertical que liga a costa ao centro histórico e já serviu de locação para um filme de Sophia Loren. Pelas imensas janelas do funiculare, à medida que o íngreme rochedo vai ficando para trás, descobre-se a imensidão do Mediterrâneo e dos Faraglioni, dois picos orgulhosos, formados pela erosão marinha, que despontam no mar como dois faróis, guiando os navegantes desde os tempos de Ulisses.

O Sul da Itália voltou à moda e vem sendo procurado como alternativa a destinos como Nice ou Ibiza. “Venho a Capri há 15 anos e só aqui consigo me recarregar para voltar para Londres”, revela o inglês Mark Atkinson, que ali permanece de julho a setembro. Trata-se de uma ilha plural, capaz de agradar aos mais variados gostos e estilos com seus roteiros. Em Punta Carena, por exemplo, no extremo sul da ilha, local também conhecido como Limmo (limite, fronteira), foi erguida a Migliera, imensa muralha que fascina e assusta ao mesmo tempo. Construída no século XVI, a Migliera protegia Capri do ataque de piratas, como o célebre Barbarossa (Barbaruiva), que assaltou a ilha em 1535. Não muito longe de Punta Carena, uma prainha menos rochosa de nome Marina Piccola desnuda-se e esconde-se conforme a dança das marés. A praia acabou se tornando uma das mais cobiçadas e caras da ilha.

Mas Capri também oferece opções mais acessíveis. Uma delas é dar uma esticadinha até Anacapri, vilarejo de ruelas estreitas com cenários exóticos e atmosfera informal. Anacapri foi “descoberta” pelo médico sueco Axel Munthe em 1895 e adotada por ele até sua morte, em 1949. Munthe construiu ali a Villa San Michele, uma casa-museu que abriga um dos mais interessantes acervos de arte romana do Sul do país. No vilarejo está também um dos pontos mais mágicos da ilha, a Grotta Azzurra, ou Gruta Azul, alcançada de barco através de uma pequena abertura com menos de um metro de altura. Ali, a luz do dia penetra por uma abertura submarina localizada bem abaixo da cavidade principal, filtrando os reflexos azuis. Com 60 metros de comprimento e 25 de profundidade, a maior das 55 grutas espalhadas pela ilha foi apelidada de Catedral Azul e atraiu a atenção de místicos. Conforme a lenda, sereias se reuniam ali para conversar.

Inimigos ao mar – Há duas Capris distintas e simultâneas. Por um lado, é uma ilha festiva, quase frívola, onde se come um inesquecível “linguine con fruti di mare” (um tipo de massa com frutos do mar). Por outro, uma Capri mágica, contemplativa, escondida na profundidade da Grotta Azzurra ou atrás da Migliera. Muito mistério cerca, também, a Villa Jovis, construída por Tibério no século I d.C. Um dos mais importantes referenciais de arquitetura romana do país, a Villa abriga histórias de arrepiar. Conta-se que, do alto do Monte Tibério, onde ela foi erguida, o imperador costumava jogar ao mar seus inimigos políticos e escravas que se rebelavam contra o poder do império. Hoje, quase 20 séculos depois, a ilha não oferece os mesmos riscos. Apenas fascínio e a nítida impressão de que Adão e Eva passeiam por ali.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias