A acareação entre os senadores Antônio Carlos Magalhães, José Roberto Arruda e a ex-diretora do Prodasen Regina Célia Borges na Comissão de Ética do Senado serviu para reforçar as já fortíssimas impressões deixadas nos três depoimentos individuais: os senadores mentiram. Ao final do triste espetáculo da quinta-feira 3, o relator da comissão, o senador Roberto Saturnino Braga, estava decidido pela cassação de ACM e Arruda, como mostra a reportagem de Andrei Meireles e Mino Pedrosa.

Definida pelo jornal britânico Financial Times como uma mistura de teatro, novela e circo, a confusão no Senado proporcionou momentos de constrangimento nunca antes imaginados. Por exemplo, o nocaute imposto pelo senador do PDT do Amazonas, Jefferson Peres, ao ex-todo-poderoso ACM e o também antes impensável silêncio do velho cacique diante das irônicas constatações do senador Pedro Simon: “O senhor rasgou a lista e nem ficou doente???”

A acareação levou brasileiros de todas as classes a grudar os olhos na TV Senado, a nova mania nacional. Para o presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, só quem disse a verdade foi Regina Borges, conforme declarou o diretor do jornal O Estado de S. Paulo, Ruy Mesquita, que assistiu ao espetáculo na companhia de FHC. Já os repórteres de ISTOÉ Ricardo Miranda e Isabela Abdala acompanharam o depoimento na casa de Joana D’Arc Franco, moradora de classe média de Brasília. Ex-delegada e experiente em acareações, ela afirmou: “…essa gente mente com a melhor cara do mundo.” Para os oito membros de sua família, a cassação é iminente.

Além da comprovação das mentiras, também ficou evidente para a maioria do Parlamento que o processo de cassação é inevitável. E o pior não é isso. Quem for flagrado na tentativa de acender o forno para assar a tradicional pizza brasiliense será punido com o mais terrível dos castigos: a execração nas urnas nas próximas eleições.