Em meio a tanta bobagem dita durante as partidas de futebol, o ex-atacante Walter Casagrande Jr. tem-se revelado um comentarista e tanto. Em vez de chatear o espectador com devaneios sobre táticas e digressões redundantes, do alto da sua experiência prefere acrescentar detalhes preciosos ao jogo. Não à toa, sua postura elegante já chamou a atenção até do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira, que afirmou que Casagrande é o melhor comentarista de futebol do Brasil. Teixeira tem razão. O ex-craque dá vida nova às transmissões da Rede Globo e deixa todo mundo atento aos comentários e testemunhos de quem brigou nos gramados durante 13 anos. Quando o goleiro Rogério, por exemplo, cobrou a falta e fez o gol do São Paulo na final contra o Santos no domingo 18, Casagrande descreveu como é a sensação de marcar um gol. “Eu ficava com as pernas trêmulas de emoção. A descarga de adrenalina é tão grande que precisava de alguns instantes para tudo aquilo passar. No caso do Rogério esse relaxamento não é possível, porque ele tem de voltar para cobrir o gol”, observou. Sem torcida – Sempre sóbrio, o comentarista funciona como um contraponto de lucidez à euforia gongórica e chata do narrador Galvão Bueno. Com Casagrande, a Globo não só recuperou o Ibope perdido nas transmissões de futebol como o transformou numa grata surpresa dentro do árido cenário do jornalismo esportivo. Embora sonhe, aos 37 anos, em ser técnico de futebol, Casão – como é mais conhecido – tem-se empenhado, e muito, em não fazer feio atrás das câmeras. Para ser destaque na sua área fez sessões com uma fonoaudióloga e deixou de falar acelerado, atropelando as palavras. Só falta aplicar os “esses” nos finais das frases. Estes, nem o badalado professor de português Pasquale Cipro Neto conseguiu corrigir. A ajuda do professor foi eliminar o excesso de gíria e alguns escorregões na concordância. “Eu tinha a mania de começar as frases falando: ‘Quando você pega na bola.’ Não dá para falar assim com o espectador. Ele não pega na bola coisa nenhuma”, assume Casagrande. Quase em paz com a gramática, ele só teme a frequente fúria das torcidas. “Ainda me identificam como corintiano. Fui comentar um jogo do Corinthians na Bahia e na saída do estádio quase fui massacrado. Só me salvei porque um casal de paulistas me reconheceu e me chamou para entrar num táxi.” Tanta agressividade não se justifica. Afinal, como tem um filho palmeirense, um são-paulino e outro corintiano, ele sabe que a melhor tática é não torcer para ninguém.