A fogada em números que atingiram a estratosférica quantia de US$ 200 milhões, a mais nova fábula digital da Walt Disney Pictures chega aos cinemas de todo o Brasil na sexta-feira 30 carregando um tema que parece não se ter esgotado no imaginário popular. Depois das bem-sucedidas incursões de Steven Spielberg no mundo jurássico, com toda a vingança que a natureza teve direito, Dinossauro (Dinosaur, Estados Unidos, 2000) vem redimir a maioria dos seres pré-históricos numa aventura impressionante e graciosa, que os pré-adolescentes devem curtir com mais intensidade. Totalmente realizado num sistema de filmagem chamado live action (ação ao vivo), que exigiu quatro anos consecutivos de trabalho que desembocou num realismo de imagens para deixar qualquer um boquiaberto, Dinossauro cumpre um marco na animação cinematográfica. Para satisfazer as necessidades tecnológicas de última geração, a Disney construiu e inaugurou um estúdio especialmente para operar suas sofisticadas traquinagens de computação gráfica.

Foram 3,2 milhões de horas de processamento, o equivalente a 70 mil CDs ROM com 100 milhões de arquivos individuais, manipulados por meio de 250 processadores e 300 computadores. Tamanha grandiosidade de números gerou uma história encantadora que fala de sobrevivência, solidariedade e romance entre monstrões de toneladas. Programado para ser exibido em 313 salas, no Brasil a fita conta com um apelo especial em sua versão dublada. Nair Belo e Hebe Camargo, respectivamente deram vida às simpáticas dinossauras Eema e Baylene. Ficou divertidíssimo. Fábio Assunção dublou o herói Aladar e Malu Mader, a heroína Neera. Nascido de um ovo sobrevivente de um massacre de carnossauros, o iguanodonte Aladar acabou sendo criado por uma família de lêmures, bichos semelhantes aos símios na aparência e nos hábitos. A sequência que traça o destino do ovo é marcante. São panorâmicas e mergulhos vertiginosos sobre paisagens verdadeiras, filmadas nos pântanos da Flórida, oceanos e planícies da Venezuela, costa da Austrália e Hawaí.

As locações foram pesquisadas durante 18 meses por duas equipes que rodaram o mundo. Na tela, o espectador desfruta da nítida impressão de voar junto com a ave pré-histórica que sela o futuro de Aladar até o ovo cair numa ilha paradisíaca. Depois das filmagens externas, os animadores combinaram a ação dramática dos dinos em planos fechados, com a ajuda de uma dino-cam, câmera computadorizada inventada para a ocasião, operada através de cabo e capaz de se mover a uma velocidade de 50 quilômetros horários, com alcance de 300 metros e giro de 360 graus. Também são impressionantes os movimentos dos bichões, que levantam poeira quando correm, contraem a musculatura coberta de pele cheia de nervuras. Os lêmures são um show à parte, com seus olhinhos faiscantes e pelagem de densidade minuciosamente estudada em computador.

Foto: Divulgação
Aladar e seus “irmãos” lêmures: expulsos do paraíso por uma chuva de meteoros

Na historinha básica, Aladar é contemplado pela sorte, mas exilado de sua espécie. Cresce junto a seus “irmãos” levando uma vida divertida, com brincadeiras tão truculentas quanto suas toneladas mal ajambradas. Até que uma terrível chuva de meteoros expulsa a família de seu paraíso. É aí que eles se deparam com um imenso grupo migratório de dinossauros caminhando em direção a um local seguro de acasalamento. O iguanodonte e os lêmures agregam-se a eles. No entanto, acuados pela falta d’água e pelas mastodônticas presas de dois carnossauros que os perseguem, todos entram em crise, principalmente por causa do inflexível Kron, líder do grupo e irmão de Neera. Claro que os primeiros olhares e carinhos pesadões acabam levando os dois a formarem um casal, que os 48 animadores da Disney privilegiaram em gestos e graça. Por este amor e pela sua própria natureza de ser do bem, Aladar imprime todas as características da mensagem principal do filme.

Em tempos violentos de Pokémon, Dinossauro encanta pela delicadeza e pela filosofia do unidos venceremos. Claro que há maldade. Não seria um filme da Disney se não houvesse maniqueísmo explícito. Maus são os carnossauros, que não emitem um único som a não ser urros molhados de baba sequiosa por carne. Kron e seu fiel amigo Bruton também podem entrar na galeria dos ausentes do bem. As velhas dinossauras Eema e Baylene fecham o ciclo de bondade. O público adora, os executivos da Disney lucram e todos vivem felizes para sempre.