O segredo da permanência de alguns dos tesouros arquitetônicos da Europa é sua capacidade de recriação. Famosa desde a Antiguidade, a cidade de Gênova, na Itália, passa pelo maior processo de restauração de sua história. Do centro histórico, onde se concentram as igrejas medievais e os palácios renascentistas, ao caminho de pedras que leva à casa em que viveu Cristóvão Colombo, tudo está sendo cortado, lixado, pintado. A antiga vila portuária, que foi símbolo do comércio de especiarias entre o Oriente e o Mar Mediterrâneo, renasce como rota de turismo.

Principal pólo portuário da Itália, Gênova estende-se pelo mar da Ligúria e deve a ele sua fama de porto de águas calmas. Da época em que era parada obrigatória para navegantes, restou a arquitetura imponente, ora marcada por palácios cobertos de mármore, ora por ruelas e becos de chão batido de pedra, onde se encontram pequenas lojas, sebos e restaurantes. Ponto de partida para os dois milhões de europeus que realizam cruzeiros marítimos pelo continente todo ano, a cidade adaptou-se à nova economia. A maioria dos palácios foi convertida em museu, e nos antigos mercados de secos e molhados hoje estão instaladas redes de fast-food e lojas de grifes.

A atual restauração, feita com dinheiro da União Européia, confere a Gênova um clima de festa. Tudo deve estar pronto até 17 de julho, quando a cidade se tornará a sede da reunião anual dos sete países mais ricos do mundo – G7/G8, formado por Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Canadá e Japão, além da Rússia. É a chance de mostrar ao mundo sua riqueza cultural e artística. E também um rito de preparação, já que, em 2004, a cidade estará inteiramente renovada para ser a Capital Européia da Cultura.

A Piazza de Ferrari, marco zero da cidade, é o vértice da transformação. Com projeto do arquiteto Bernhard Winkler, especialista em logística e mobilidade urbana, ela está perdendo sua forma circular para dar lugar a um grande pátio, de onde sairá a linha de metrô que ligará o porto ao centro histórico. Construções medievais como a catedral de San Lorenzo ou a Igreja Santa Maria di Castello estão tendo as fachadas e afrescos restaurados. A via costeira está sendo ampliada e, assim como o Bigo, um elevador panorâmico de 40 metros de altura, recebeu nova iluminação.

Algumas das principais atrações já estão à espera do público. O Palazzo Ducale, antiga sede do governo e atual centro cultural, apresenta a mostra Viaggio in Italia – um passeio mágico de 1500 a 1900. Por meio das obras de pintores como Rafael, Michelangelo e Tintoretto e de manuscritos de escritores como Maquiavel e Marquês de Sade, é recontada a história da Itália. As impressões de viajantes e hóspedes ilustres, como o escritor britânico Charles Dickens e o francês Gustave Flaubert, são tema de palestras. Concertos de música de câmara e visitas seguindo roteiros de viajantes completam a programação.

Europa de navio

Se o genovês Colombo estivesse vivo e resolvesse fundar no Brasil uma rota marítima para a Europa, penaria um bocado. Entre os 22 mil brasileiros que fizeram cruzeiros em 2000, apenas dois mil visitaram o Velho Mundo. A maioria dos cruzeiristas daqui prefere o Nordeste, Miami ou Caribe. Para atraí-los, a partir deste mês operadoras oferecem preços promocionais. Pela Costa Cruzeiros, uma viagem de sete dias, partindo de Gênova e passando por Nápoles, Palermo, Tunísia, Palma, Barcelona e Marselha, custa a partir de US$ 1.140, mais US$ 549 de passagens aéreas. Pela Royal Caribbean, o roteiro Roma, Nápoles, Valetta, Barcelona, Ville Franche e Livorno sai por US$ 594 em cabine dividida, mais US$ 1.281 de passagens.